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Como as anomalias uterinas podem interferir na fertilidade feminina?

As anomalias anatômicas, de um modo geral, não impedem uma gestação. Contudo, podem prejudicar a fertilidade da mulher ou dificultar a permanência do bebê no útero durante a gestação.

Os fatores que influenciam negativamente a fertilidade, em relação às malformações, podem ser: alterações da morfologia (formato), volume, espessura, organização e função do endométrio (tecido de revestimento interno do útero) e miométrio (camada muscular do útero); incompetência cervical, ou seja, quando o colo do útero abre espontaneamente com o avançar da gestação; e/ou por alterações da vascularização uterina, dependendo do tipo de malformação.

As taxas de abortamento resultantes de todas as causas de malformações situam-se entre 21%–50%, levando a uma diminuição das taxas de nascimentos, que chegam à cerca de metade das taxas observadas na população em geral. Esses resultados se devem a abortamentos de repetição do primeiro e segundo trimestres. Em idades gestacionais mais avançadas, devem-se a outras intercorrências obstétricas, como anomalias placentárias, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), apresentação fetal anômala no parto, rotura prematura de membranas, trabalho de parto prematuro e parto prematuro efetivo.

A insuficiência cervical parece ser uma importante causa de maus resultados reprodutivos nos casos de anomalias müllerianas, não pela existência de malformações do próprio colo mas, de acordo com vários investigadores, pelo desequilíbrio entre a quantidade de fibras musculares e de tecido conjuntivo, que existe em menor quantidade. Além dessa diferente composição, também as forças exercidas pelo conteúdo uterino durante a gravidez são distintas, sendo assimétricas e estando aumentadas na presença de malformações uterinas, o que causa um relaxamento prematuro do colo hipermuscular. Assim, uma forma de melhorar os resultados reprodutivos em casos de anomalias congênitas uterinas pode ser a realização de cerclagem cervical profilática, como foi testado com sucesso por diversos investigadores, em estudos não-randomizados. A cerclagem é uma cirurgia na qual se dá alguns pontos no colo uterino.

Quanto à vascularização, considera-se que esta poderá ser deficitária em algumas malformações uterinas, pela ausência ou pela presença de vasos uterinos ou ováricos anormais. Este mecanismo poderá explicar a presença de RCIU ou mesmo dos abortamentos espontâneos. Há também evidências de diminuição de fatores de crescimento, nomeadamente de fatores de crescimento endotelial vascular, essenciais ao crescimento da rede vascular de suporte adequado à nutrição e ao crescimento do embrião/feto.

Por exemplo, enquanto nos úteros unicórneos a presença de uma única artéria uterina condiciona importantes déficits na vascularização do útero, também nos bicórneos/didelfos se verifica uma pobre vascularização do endométrio medial, que é partilhada entre as duas semicavidades, uma vez que é realizada simplesmente por artérias radiais pequenas, e não comunicantes.

Calcula-se que exista um importante número de casos sem diagnóstico, por serem assintomáticos e apresentarem sucesso reprodutivo.

O útero septado, por exemplo, pode representar um alto risco de perda gestacional, devido à presença do tecido fibroso (septo), que pode estender-se até o colo do útero da mulher e, em alguns casos, até a vagina. Já um útero unicorno, devido a apresentar apenas uma tuba uterina, pode representar baixos níveis de fertilidade feminina. Apesar de não significar que seja impossível conceber nessas condições. Os demais tipos de malformações uterinas estão mais associados a complicações que podem ocorrer durante a gestação do que ao baixo índice de fertilidade. O útero bicorno, por exemplo, devido a apresentar uma fenda na cavidade uterina, pode comprometer a capacidade de distensão uterina durante a gestação.

Para os casos em que a mulher apresenta anomalia anatômica no útero e dificuldade em engravidar, é possível realizar tratamentos de reprodução assistida e cirurgias por meio de histeroscopia.

Este texto foi extraído do e-book “Malformações Uterinas”.
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