Técnica usa classificador de célula com chip microfluído para reduzir danos
Os espermatozoides móveis são difíceis de coletar com um classificador de células convencional porque são vulneráveis a danos físicos. Uma colaboração de pesquisa entre as universidades de Kumamoto e Kyoto, ambas no Japão, desenvolveu uma técnica que usa um classificador de células com tecnologia de chip microfluídico para reduzir o dano celular e melhorar as taxas de fertilização in vitro (FIV). Espera-se que esta pesquisa aumente as taxas de FIV para melhorar a produção de animais experimentais e gado, e ela também pode ser usada como um tratamento de fertilidade na medicina reprodutiva humana.
É importante selecionar espermatozoides férteis com boa motilidade para obter altas taxas de FIV. Classificadores de células convencionais usam citometria de fluxo para separar células específicas por tipo e podem ser usados para selecionar esperma. No entanto, como os espermatozoides são suscetíveis a danos físicos, é extremamente difícil separá-los sem afetar a motilidade.
Para reduzir os danos às células do esperma, a equipe de pesquisa do professor Toru Takeo, da Universidade Kumamoto, tentou desenvolver uma técnica de seleção de esperma usando um classificador de células com tecnologia de chip microfluídico que reduz os efeitos prejudiciais às células. Dispositivos microfluídicos têm estruturas de canais minúsculos com largura e profundidade entre várias e várias centenas de micrômetros e são amplamente usados em pesquisas químicas e de biotecnologia.
Enquanto investigavam as condições ideais de separação de espermatozoides de um meio de cultura com seu dispositivo, os pesquisadores coletaram com sucesso espermatozoides de camundongos que mantiveram a motilidade. Além disso, a fertilização in vitro usando espermatozoides coletados com este dispositivo produziu óvulos fertilizados e os embriões se desenvolveram em camundongos neonatais após serem transplantados em fêmeas.
Essa nova tecnologia também pode ser usada para melhorar a FIV. No estágio final da maturação, antes da penetração e fertilização do óvulo, os espermatozoides sofrem mudanças morfológicas e fisiológicas chamadas de reação acrossômica, que os torna prontos para fertilizar um óvulo. Para testar se eles poderiam aumentar a fertilidade, os pesquisadores prepararam uma substância fluorescente que se liga ao esperma fértil e usaram o dispositivo para separá-los dos espermatozoides não férteis. Experimentos de FIV de comparação revelaram que o esperma fértil teve uma taxa de fertilização mais alta do que o esperma não fértil.
“Esta novidade é mais uma esperança para casais que tentam engravidar, mesmo com tratamentos, e não têm sucesso. Ela vem se juntar à PICSI (seleção de espermatozoides funcionais), um recurso laboratorial utilizado no tratamento de fertilização in vitro que seleciona os melhores espermatozoides para serem injetados no óvulo de um modo semelhante ao que ocorre naturalmente no organismo”, comenta Arnaldo Cambiaghi, especialista em ginecologia e obstetrícia com certificado de atuação na área de reprodução assistida e responsável técnico do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
Na PICSI, o esperma é colocado em uma placa laboratorial, semelhante a um prato, contendo a substância Hialuronidase (Hyalozima), semelhante ao encontrado na camada externa dos óvulos. Essa substância atrai os espermatozoides de melhor qualidade que serão isolados e encaminhados para a fertilização, FIV- ICSI. Esse procedimento imita o que ocorre naturalmente nas tubas em um processo natural de fertilização selecionando os melhores espermatozoides, com menor fragmentação do DNA e chances menores de anomalias cromossômicas. “No início da PICSI, o sêmen passa por um processo seminal que pode vir a danificar o DNA espermático e prejudicar a qualidade dos espermatozoides. Já esta nova técnica, mostrada pelos pesquisadores japoneses, parece não causar este dano”, finaliza o médico.