A diferença entre eficácia e eficiência é que enquanto a eficácia refere-se a fazer a tarefa certa, completar atividades e alcançar metas, a eficiência é sobre fazer as coisas de forma otimizada, de maneira mais rápida ou com menos gastos. Em termos gerais:
Eficaz
é algo adequado para atingir um propósito, de modo a alcançar o resultado pretendido ou esperado.
Eficiente
quando a tarefa é executada da melhor maneira possível, com o menor desperdício de tempo, esforço e recursos.
Para alguns autores, o PGT-A torna o tratamento mais eficiente, pois selecionamos o embrião com mais chance e poupamos a paciente de transferir embriões que não implantariam por serem alterados. Entretanto, em algumas situações, pode tornar o tratamento menos eficaz, ou seja, com um pior resultado final.
Um dos motivos disso é o fato da biópsia ser realizada na porção do embrião que originará a placenta, onde pode ocorrer mosaicismo, ou seja, haver células alteradas entre as normais, e esta alteração nem sempre se refletir no embrião. Mosaicismo é a presença de duas ou mais linhagens de células com diferentes constituições cromossômicas.
Além disso, alguns estudos levantam ressalvas sobre uso do PGT-A. Orvieto et al, no congresso ESHRE de 2014, demostraram que 20% dos casos de PGT-A foram inconclusivos na biópsia e mais 16% apresentavam mosaicismo. Esfandiari et al demonstraram algumas discrepâncias no resultado de PGT-A do mesmo embrião, enviado para diferentes centros. O mesmo embrião teve resultado normal ou alterado quando o exame era realizado em clínicas diferentes. Há, ainda, alguns relatos publicados de transferência de embriões considerados aneuploides pelo PGT-A que levaram a uma gravidez saudável. Com o avanço das técnicas de avaliação das biópsias embrionárias com novos protocolos de NGS, os resultados estão mais precisos atualmente, mas ainda há chance de erros. Estima-se que mosaicismo pode estar presente em 4 a 5% dos embriões biopsiados.
Frente a tudo isso, alguns autores vêm ponderando a realização indiscriminada do exame, principalmente em pacientes com baixa resposta na estimulação ovariana, pois produzem menos óvulos e menos embriões, às vezes, um único embrião.
Outra preocupação é se realmente a biópsia embrionária é inócua para o embrião. Apesar de ser considerada segura, alguns autores questionam se pode afetar as chances do embrião. Um estudo randomizado (Munné et al, 2019) comparou transferências únicas de embriões congelados: um grupo tendo realizada PGT-A e outro sem o exame. Para pacientes abaixo de 35 anos, a taxa de gravidez em curso foi semelhante (49,5% para PGT-A e 53% para grupo controle). Considerando que, neste grupo de pacientes, somente 48% dos embriões eram normais na biópsia, esperava-se uma maior taxa de gravidez no grupo que realizou a biópsia, o que não foi observado, questionando-se se a vantagem de selecionar embriões euploides não foi balanceada por prejuízo causado pela biópsia. Concluiu-se, assim, que nesse grupo de pacientes, o PGT-A não mostrou benefício. Nesse mesmo estudo, também foram avaliadas pacientes entre 35 e 40 anos. Nesse grupo, houve uma taxa de embriões euploides de 35,5% e houve um aumento na taxa de gravidez em curso com a biópsia (51%), em relação aos controles (37%), mostrando benefício da biópsia em pacientes com mais risco de aneuploidia. Nesse estudo, não houve alteração na taxa de abortos com a biópsia.
Por tudo isso, PGT-A não deve se tornar um procedimento de rotina para todas as mulheres que desejam engravidar. Antes de mais nada, existem alguns princípios éticos do casal que devem ser respeitados, como a aceitação de uma seleção natural e a não concordância do descarte dos embriões que apresentarem problemas. Além disso, há o custo envolvido e o fato de não ser isento de riscos, como por exemplo resultados falso positivos, o que poderia levar a descarte de embriões com chance de uma gravidez saudável.
Este texto foi extraído do e-book “Biópsia Embrionária na FIV”.
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