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A Mulher e sua Sexualidade

Para o entendimento da sexualidade humana é determinante a compreensão de nosso organismo, juntamente com seu aparelho sexual: útero, ovários, clitóris, canal vaginal, enfim, dos órgãos sexuais e suas funções, impulsos, instintos e respostas sexuais a todo tipo de sentimentos, pensamentos e fantasias inter-relacionados com o desempenho sexual e a reprodução humana, incluindo a nossa formação cultural e social em consonância com a de nosso(a) companheiro(a) e parceiro(a), com quem iremos nos relacionar.

O conceito atual de sexualidade que é utilizado é o da Organização Mundial de Saúde, que a define da seguinte forma: “uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser sensual e ao mesmo tempo sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia a nossa saúde física e mental”.

Alguns autores acreditam que a nossa sexualidade inicia-se antes da concepção, no momento em que nossos pais fantasiam o nascimento de uma menina ou de um menino, e a partir dessa fantasia delegam papéis sociais e sexuais a esses futuros seres humanos. Quando ocorre a concepção, essas fantasias e desejos maternos e paternos serão passados para esse novo ser humano a partir do nascimento, e se estará presente ao longo do desenvolvimento desse novo ser (infância, puberdade, adolescência e fase adulta).

No intuito de compreender a nossa formação cultural e social, será útil conhecermos a história da sexualidade humana.

História da sexualidade humana

O primeiro período da história da sexualidade humana ocorreu por volta do séc. IX a.C. nas sociedades agrárias do Oriente Médio. Nesse período o homem não possuía o conhecimento de que ele era necessário para a procriação. Ele acreditava que somente a mulher possuía o dom de procriar, pois existia um culto à fertilidade representada pela “Deusa Mãe”. A figura que aparecia nesse período como a deusa da fertilidade, que venerava as partes sexuais femininas, mais especificamente a vagina, e exaltava a mulher com sendo o centro simbólico de toda a atenção da sociedade primitiva era “Vênus”, a deusa da fertilidade. Esse período estendeu-se até o séc. V a.C. e foi denominado de Matriarcalismo.

O segundo período da historia da sexualidade humana ocorreu a partir do séc. V a.C., quando surgiram as primeiras culturas de trigo, cevada, arroz e milho. O homem então começou a fixar-se em determinadas regiões e iniciou a criação de animais, passando a observar que o “macho” desempenhava papel importante na procriação; portanto, compreendeu que para ocorrer a formação de um novo ser vivo era decisiva a participação do “macho”. Desta forma, o homem passou a ter conhecimento de que ele participava da fecundação e da reprodução da espécie humana. Iniciou-se então o patriarcalismo, prolongando-se até os dias atuais, com idéias e pensamentos machistas. Os deuses passaram a ser representados pela figura do homem, e a mulher passou a ser submissa e a “servir” o homem. A partir daí apareceram a Bíblia e o Velho Testamento por volta do séc. II a.C., afirmando que Eva fora criada através de uma costela de Adão, ou seja, a mulher viria de uma parte do homem, e por isto teria que ser submissa a ele. Para o homem era permitida a poligamia, o sexo anal, o sexo oral e o divórcio. Para a mulher, ao contrário tudo era proibido, e ela era tida como auxiliar do homem.

Nessa época ocorriam também as orgias greco-romanas, às quais grande parte da sociedade primitiva se mostrava contrária. Nos guetos de Roma, nas catacumbas e na boca dos pobres começava a aparecer uma nova ideologia revolucionária, que pregava a igualdade entre todos os seres humanos e a libertação do Deus-homem heróico, reparador dos pecados, que pregava também a distribuição dos bens, numa espécie de socialismo primitivo, sendo Cristo o único senhor. Das pregações e ensinamentos de Cristo começava a Era Cristã, que condenava as orgias greco-romanas, surgindo então a Moral Cristã, que se posicionava contra a promiscuidade das relações sexuais que ocorriam nessa sociedade primitiva.

Constantino, no séc. IV d.C., aliou-se à Igreja não só por motivos religiosos, como também políticos, elevando o cristianismo à condição de religião oficial do Império Romano.

Após a fusão da cultura judaica com a greco-romana, o cristianismo não só deixou de ser a religião dos pobres e oprimidos, como também pe
rdeu seu caráter político de socialismo primitivo, incorporando uma ideologia universalista e moralista.

O prazer na relação sexual era então condenado como sendo uma coisa “má”, e aos poucos a moral cristã foi condenando o sexo prazeroso e venerando o sexo procriativo. As relações sexuais para seus fiéis só deveriam ocorrer com vistas à “procriação” e não ao prazer. A menstruação era tida como uma impureza do corpo da mulher, e se punia com a morte a mulher que mantivesse relação sexual durante o fluxo menstrual. Surgiu assim o conceito de pecado para os cristãos. O parto vaginal também gerava impureza e obrigava a mulher a passar por um período de recolhimento denominado quarentena, e após os quarenta dias do parto tomava um “banho de pureza”.

Por volta do séc. VI d.C. surgiu o Novo Testamento com a doutrina de São Paulo, que condenava a homossexualidade, o adultério, a prostituição, o sexo anal, e proibia também o divórcio e propunha um ideal de mulher: submissa e obediente ao marido. Florecia o idealismo da “virgindade” como forma de identidade cristã e de pureza.

Alguns teólogos cristãos da época recomendavam aos casados abstinência sexual: nas quintas-feiras, em respeito à prisão de Jesus Cristo; nas sextas-feiras, em louvor à sua morte; nos sábados, em homenagem a Nossa Senhora; nos domingos, em honra a ressurreição de Cristo, e nas segundas-feiras, em memória dos mortos. Somente nas terças e quartas-feiras era permitida a relação sexual, caso não houvesse coincidência com os dias de jejum e festas religiosas. Deveriam abster-se também durante a Quaresma, o Pentecostes e o Natal, sete dias antes da comunhão, nos dias em que a mulher estivesse menstruada e quarenta dias após o parto. Observem que através dos séculos a Igreja foi nos tirando o nosso aparelho sexual, com uma repressão total à nossa sexualidade, aos nossos desejos e às nossas fantasias. A Igreja determinava o dia em que se deveria ter relação sexual, e o sexo passou a ser estritamente procriativo, uma vez que o sexo prazeroso era totalmente condenado pela Igreja. A repressão não parou por aí, pois a nudez, que era vista com naturalidade, começou igualamente a ser condenada e coberta de panos e conceitos da moral cristã. Desta maneira, a sexualidade era tida como fruto do pecado, uma “coisa” ruim e pecaminosa, e ter prazer passava a ser “pecado”.

Os séculos que se sucederam, séculos XV e XVI d.C., continuaram reprimindo nosso aparelho sexual, condenando a masturbação, que também passaria a ser encarada como uma doença, uma anomalia causadora de males mentais que poderia levar à morte. Na Inglaterra, o médico Dr. Tissot condenou a masturbação, “comprovando” que ela poderia causar apatia no indivíduo e levá-lo à morte. A Igreja pregava ser desperdício o resultado da masturbação, da homossexualidade e do coito praticado mais de uma vez por semana sem a intenção de procriar.

Somente nos séculos XIX e XX d.C. Sigmund Freud, com seu conhecimento da mente humana, orientou para as possibilidades de que as neuroses poderiam ser conseqüência de toda a repressão sexual ocorrida durante a história do ser humano através dos tempos. Freud era contrário a toda moral cristã imposta pela Igreja, que aniquilava o aparelho sexual dos seres humanos. Portanto, todo esse panorama histórico-social, que reprimiu a sexualidade durante séculos, levou a mulher a desconhecer o seu aparelho sexual e a não tocá-lo, comprometendo um autoconhecimento e prejudicando um auto-erotismo.

Graças a essa repressão sexual é que 45% das mulheres são anorgásmicas, e este número poderá ser bem maior se considerarmos as dificuldades de realizar trabalhos e pesquisas na esfera da sexualidade. A sexualidade passou a ser objeto de estudo e é tida como ciência desde de 1920. Somente na década de 60 é que Master ; Johnson descreveram a resposta da sexualidade humana (excitação, desejo, libido e orgasmo). Na década de 60 surgiram os anticoncepcionais hormonais, e desta maneira a mulher passou a programar o número de filhos desejados, possibilitando-lhe uma certa autonomia na utilização de seu aparelho sexual para o obter prazer sem se preocupar com a reprodução. A partir de então ocorreu uma massificação do sexo, com uma hipergenitalização sexual: se faz sexo por fazer, sem vínculos de afetividade e cumplicidade.

A mulher, hoje, representa 55% a 65% do mercado de trabalho e das universidades, e conseguiu à custa de muitas lutas reverter em parte o que a sociedade patriarcal lhe impôs através dos séculos e, evidentemente, por todas as lutas alcançadas está tentando conhecer melhor seu aparelho sexual, melhorando assim o conhecimento de si mesma e do seu erotismo. Acreditamos que a mulher atual está procurando o verdadeiro amor maduro. O que significa o “amor maduro”? Segundo Amparo Caridade, o amor maduro só é maduro quando conquista dimensões especiais. Caso contrário, permanece infantil ou adolescente. Não é a idade que define a maturidade no amor. Somos maduros quando, por exemplo, não apenas despimos o corpo do outro e o possuímos, mas somos maduros quando, ao fazer isso, fazemos como se fôssemos deuses, como se tivéssemos aprendido a arte da contemplação da vida através do corpo do outro. Ficamos maduros no amor quando o outro se torna tão especial para nós, que lembramos dele como quem reza uma oração ou escreve um poema. Somos maduros no amor quando não cobramos nada, porque conquistamos a certeza interna de que é bom estar com o outro.

Esperamos, por meio deste texto, ter-lhe proporcionado uma reflexão para o conhecimento da sexualidade da mulher atual, para que ela tenha a clara compreensão de como a forma
ção judaico-cristã prejudicou seu aparelho sexual, e que, através desse conhecimento, ela possa compreender melhor o seu corpo, tocá-lo por meio da masturbação e redescobrir um autoconhecimento e um auto-erotismo, porque para nos relacionarmos com outra pessoa é importantíssimo termos o conhecimento de nosso próprio corpo. Procure então explorá-lo da melhor forma possível, pois isto fará com que a sua “saúde sexual” melhore muito e, conseqüentemente, a sua “vida sexual” será infinitamente melhor.

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