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Relações Afetivas

Gostaria de iniciar citando Peter Drucker, guru de administração e autor de vários livros para empresários. Que faz ele num livro para a mulher, num capítulo sobre relações afetivas? Fala de mudanças:

“A cada dois ou três séculos ocorre na história ocidental uma grande transformação. Em poucas décadas a sociedade se reorganiza – sua visão do mundo, seus valores básicos, sua estrutura social e política, suas artes, suas instituições mais importantes. Depois de cinqüenta anos existe um novo mundo. E as pessoas nascidas nele não conseguem imaginar o mundo em que seus avós viviam.”

Esta é a mais clara descrição da intensidade da mudança de valores que estamos vivendo. Mudando os valores, mudam os papéis, que são os espaços onde vivemos nossas emoções. Em resumo, estamos vivendo uma enorme mudança na forma de viver nossas emoções. A afetiva, inclusive.

O segundo a ser citado, é um filósofo chamado Hegell. Que diz que o crescimento humano não é linear – é dialético. Vamos da tese para a antítese e daí para uma síntese, que será tese de outra antítese. Complicado? Não. Nossas avós diziam de forma bem mais simples: “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza.”

Estamos vivendo nossas emoções de forma totalmente oposta a como aprendemos que elas deveriam ser vividas.

Estamos nos lambuzando. Deixamos o ponto de equilíbrio que deu segurança às gerações que nos antecederam e buscamos um novo ponto de equilíbrio – inteiramente novo.

Como deve ser este equilíbrio? Em geral, pensa-se que o ser humano equilibrado deve ser uma pirâmide sólida e inabalável, que agüenta qualquer coisa. Mas é exatamente o contrário. O ser humano equilibrado é um móbile frágil: soprou, ele balança. Tem o que Kundera sintetizou de forma brilhante no título de seu livro “A insustentável leveza do ser”. Mas ele pode voltar ao equilíbrio, porque as emoções se equilibram entre si como as peças do móbile equilibram umas às outras. Por isso, se quisermos falar da forma equilibrada de viver nossa afetividade, precisamos falar também da forma equilibrada de viver o seu complemento, a agressividade. Eu disse “o seu complemento”, não “o seu oposto” – como em geral se pensa. A agressividade e a afetividade se equilibram no móbile, elas não se combatem. Não é verdade que “só o amor constrói”. Ele só constrói se for equilibrado e quem equilibra o amor é a agressividade. Como?

A agressividade é o combustível da ação. É como gasolina que, se você joga em alguém e acende um fósforo, você mata a pessoa. Em compensação, é o que move o carro. As emoções carregam o organismo. Fico, por exemplo, cheio de impulso sexual. A agressividade é que possibilita a descarga.

Há uma ação da agressividade que mostra quanto ela é complementar da afetividade. É a colocação dos limites do nosso espaço vital. Este espaço cerca todos os animais e a invasão dele aciona o instinto agressivo. O espaço vital do ser humano não é físico, é emocional. Ser agressivo, portanto, é saber colocar os limites do nosso espaço vital emocional. Não permitir invasões. E quanto mais na periferia do espaço vital colocamos esses limites, mais socialmente isto é feito. Ser muito agressivo, portanto, é saber dizer “não”. Com toda a tranqüilidade e delicadeza: “não vou”, “não quero”, “não permito”, “não faço”. Sem gritar. Sem alterar a voz. Marcando o espaço onde você poderá viver a sua afetividade. Possibilitando relacionamentos maduros e saudáveis. Sim, porque sem a marcação dos limites, os relacionamentos serão neuróticos, dependentes. Há coisas, nos relacionamentos humanos, que só podem acontecer de forma madura se soubermos equilibrar o uso da agresividade e da afetividade nos nossos papéis. E a primeira delas é o diálogo.

Tenho uma definição de amigo. É simples. Quando eu estou errado, amigo é quem fala para mim. Inimigo fala de mim. O resto é resto, indiferente. Estes 50 anos de vida profissional me mostraram que a falta de diálogo é a maior causa de desajustes no casamento, é o caminho por onde penetra o desamor.

É na falta de diálogo, na poeira varrida para baixo do tapete, na ausência da manifestação afetiva que é falar “para” o outro – como depoimento e não como acusação, tranqüilamente.

Devemos, para isso, aprender a ouvir o que o outro diz como depoimento, não como acusação, é fundamental. Essencial. Costumo me barbear diariamente. Como uso bigodes, não consigo me barbear sem um espelho, porque não me enxergo. Isto significa que, se eu quero me arrumar por fora, preciso de um espelho. Para me arrumar por dentro, então… aí é que não me enxergo mesmo. Preciso de um espelho, de um amigo, que seja suficientemente agressivo para ser afetivo e me fale onde estou agindo errado.

Outro relacionamento, que só será maduro se equilibrarmos a afetividade e agressividade de nosso móbile é a educação.

Educação

Este é o campo em que mais perigosamente nos afastamos do equilíbrio. Falo da colocação de limites como parte essencial do processo educacional. É uma constatação generalizada, a de que os pais não estão colocando limites nos filhos e que estão delegando inadequadamente esta função às escolas. Desde que estas não o façam, porque se o fizerem não terão os pais a seu lado. Discutem-se as causas. As hipóteses vão desde a dialética, da qual já falamos. Como somos uma geração que teve uma educação rígida, estamos nos lambuzando de liberdade.

Uma segunda hipótese é a da culpa. Hoje em dia pai e mãe trabalham, diminuindo o tempo de convivência que cada um tem com os filhos. Daí a sensação de culpa e a dificuldade de dizer “não”.

Tenho uma terceira hipótese. Ouvi, outro dia, uma diretora de escola dizer: “Quando os alunos tentam fumar na escola, eu reprimo. Mas me sinto muito melhor quando sou só educadora.” Minha hipótese é que nossa geração caiu na cilada de pensar que ou a gente educa, ou reprime. Perdeu a noção de que colocar limites é educar. Podemos discutir as causas, mas as conseqüências são indiscutíveis. Estamos criando uma geração que não respeita limites e que não sabe se impor limites. Uma mistura extremamente perigosa, combustível da delinqüência. Um terceiro aspecto seria o respeito.

Autoestima

Geralmente, quem tem dificuldade em colocar limites, age assim porque tenta agradar e conquistar. Ledo engano. Tenho certeza de que a lei da oferta e da procura se aplica também no campo dos relacionamentos. O mundo é um espelho e reflete o que vê. Quando vê um tapete, pisa. Quem não se respeita, acaba não sendo respeitado. Aliás, vou citar nossas avós pela segunda vez. Lembram? “Quem muito agacha mostra… o que não deve.”
Se no campo do relacionamento o equilíbrio agressividade – agressividade é fundamental, a trilogia diálogo-educação-respeito no campo do ajustamento é também fundamental. Sua quebra aparece, em primeiro lugar, na depressão.

Depressão

Quando existe a invasão de um espaço vital, seja porque eu não sei, seja porque não posso colocar limites, a carga energética da agressividade se volta contra mim – desencadeando a mágoa, o desinteresse, o desânimo. Esta é uma palavra forte, porque anima significa alma. Logo, desânimo quer dizer sem alma. Depressão é, sem dúvida alguma, o sintoma que mais tem levado as pessoas aos consultórios de psicolólogos e psiquiatras. O maior problema das pessoas, atualmente, não está mais no desequilíbrio da sexualidade. Está no desequilíbrio do binômio agressividade – afetividade. Por não saberem dizer “não”, as pessoas não conseguem ser amadas, não conseguem amar. Deprimem. Adoecem. Por outro lado, é o uso adequado do binômio agressividade – afetividade que possibilita a conquista da independência.

Independência

Se o outro – marido, filho, chefe, me invade porque eu não coloco limites, ele passa a pensar por mim, a me dizer quais são as normas, o que é certo ou errado, como devo agir. Ficarei pendurado nele, pendente, dependente. Se eu tenho espaço para viver e amar porque sei colocar limites, tenho também espaço para pensar por mim, decidindo desta forma o que é certo ou errado e como devo agir. Ficarei pendurado dentro de mim, in, independente.

Resumindo, há duas emoções complementares. Ao contrário do que pensa o leigo, ódio não é o contrário do amor. O contrário do amor é a indiferença. Amor e agressividade são complementares. É preciso saber usar a agressividade para poder viver – com maturidade e intensidade, todo o amor que sinto. Por mim e pelo outro.

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