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Impacto do Filgrastim nas transferências de blastocistos em receptoras de óvulos de acordo com a genotipagem de KIR

A equipe médica do IPGO apresentou no 28º Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida – CBRA 2024, um estudo intitulado Impacto do Filgrastim nas transferências de blastocistos em ciclos de receptoras de óvulos com falhas de implantação anteriores, de acordo com a genotipagem de KIR.

A falha de implantação em ciclos de reprodução assistida é um desafio persistente, especialmente em receptoras de óvulos. Este estudo investiga o impacto do Filgrastim em diferentes genótipos de KIR, buscando entender seu papel na melhoria das taxas de gravidez em pacientes com histórico de falhas de implantação.

Esse estudo foi realizado por:

  • Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi CRM 33.692 | RQE 42074
  • Dra. Paula Araujo – CRM 127.101 | RQE 37521
  • Dr. Rogério Leão CRM 104.152 | RQE 38.912

Abaixo segue o estudo:

Impacto do Filgrastim nas transferências de blastocistos em ciclos de receptoras de óvulos com falhas de implantação anteriores, de acordo com a genotipagem de KIR.

  1. OBJETIVO

Comparar a taxa de gravidez em andamento (Ongoing Pregnancy – POR) em transferências de blastocistos em ciclos de receptoras de óvulos com falhas de implantação anteriores, de acordo com a genotipagem do receptor de imunoglobulina do tipo killer (KIR). E avaliar o efeito do Filgrastim nesse grupo.

  1. MÉTODOS

Este é um estudo retrospectivo que avaliou 442 transferências de embriões em ciclos de receptoras de óvulos realizados de janeiro de 2020 a março de 2024. Os critérios de inclusão foram: transferência de pelo menos um blastocisto classificado como 3BB ou melhor, proveniente de óvulos doados por uma doadora com menos de 32 anos. Os critérios de exclusão foram adenomioma grave e falta de informação sobre a evolução da gravidez até pelo menos 14 semanas. As pacientes foram inicialmente divididas em 3 grupos, de acordo com o teste de genotipagem de KIR: KIR AA, KIR Bx (AB ou BB) e sem informações sobre KIR. Pacientes com o teste de KIR tiveram pelo menos uma falha de implantação como receptoras de óvulos, enquanto aquelas sem avaliação de KIR não tiveram falhas anteriores como receptoras (Grupo Controle). O Grupo 1 (KIR AA) e o Grupo 2 (KIR Bx) foram divididos em dois subgrupos de acordo com o uso ou não de Filgrastim. O protocolo de uso de Filgrastim foi: Filgrastim 300 mcg/ml – 0,25 ml por via subcutânea em dias alternados a partir do dia da transferência do embrião e mantido até 8 semanas de gravidez. Os resultados foram comparados entre os grupos usando o teste Qui-Quadrado ou Teste exato de Fisher.

  1. Resultados e Discussão

Dos 442 pacientes, 41 eram KIR AA, 123 eram KIR Bx e 278 não tinham informações sobre KIR. Pacientes KIR AA e KIR Bx tiveram taxas de gravidez (PR) e taxas de gravidez clínica (CPR) semelhantes, mas mulheres KIR AA tiveram uma taxa de aborto clínico (CMR) mais alta (p=0,0396) e uma OPR (taxa de gravidez em andamento) mais baixa (não significativa) do que KIR Bx (Tabela 1). Comparando com pacientes sem falha de implantação e sem informações de KIR, tanto KIR AA quanto Bx tiveram PR, CPR e OPR mais baixas e KIR AA teve uma CMR mais alta, todas significativas (p < 0,05) (Tabela 1).

KIR AAKIR BxCONTROLAR
N41123278
Taxa de gravidez58,54%62,60%76,26%
Taxa de gravidez clínica36,59%39,84%67,99%
Taxa de aborto clínico26,67%6,12%2,12%
Taxa de gravidez em andamento26,83%37,40%66,55%
Tabela 1

Quando separamos os grupos 1 e 2 de acordo com o uso de Filgrastim, observamos que pacientes KIR AA sem Filgrastim tiveram uma OPR extremamente baixa (apenas 5%), significativamente menor do que pacientes KIR Bx sem Filgrastim (29,55%, p< 0,05) (Tabelas 2 e 3). Em pacientes com KIR AA, o uso de Filgrastim aumentou a OPR de 5% para 47,62% (p<0,05). Em pacientes com KIR Bx, a OPR aumentou de 29,55% para 57,14% com o uso de Filgrastim (p< 0,05). Quando comparamos a OPR entre KIR AA e KIR Bx que usaram Filgrastim, não foi observada diferença significativa (p= 0,4890) (Tabelas 2 e 3). Pacientes com KIR AA que usaram Filgrastim tiveram CPR e OPR significativamente mais altas do que aquelas que não o usaram (Tabela 2).

SEM FILGRASTIMCOM FILGRASTIMP
N2021
Taxa de gravidez45,00%71,43%P = 0,0860
Taxa de gravidez clínica15,00%52,14%P = 0,0088
Taxa de aborto clínico66,67%16,67%P = 0.1538
Taxa de gravidez em andamento5,00%47,62%P = 0,0036
Tabela 2

Pacientes com KIR BB também tiveram CPR e OPR mais altas do que aquelas que não usaram Filgrastim, além de uma PR mais elevada (Tabela 3).

SEM FILGRASTIMCOM FILGRASTIMP
N8835
Taxa de gravidez57,95%74,29%P< 0,0001
Taxa de gravidez clínica32,95%57,14%P= 0,0134
Taxa de aborto clínico10,34%0P = 0,2760
Taxa de gravidez em andamento29,55%57,14%P = 0,0043
Tabela 3

Ao comparar KIR AA e KIR BB que usaram Filgrastim com o grupo controle, não encontramos diferença estatística em PR, CPR e OPR entre os grupos. Encontramos apenas uma taxa de aborto clínico (CMR) mais alta em pacientes KIR AA, mesmo com o uso de Filgrastim (p: 0,0430).
Em relação ao número de embriões transferidos em pacientes KIR AA, 32 passaram por transferência de embrião único (SET), enquanto 9 passaram por transferência de embrião duplo (DET). No grupo com SET, a OPR foi de 25%, sem diferença estatística em relação à OPR com DET (33%).

  1. Conclusão

Receptoras de óvulos com falha de implantação anterior e KIR AA têm uma OPR muito baixa, mesmo com a transferência de blastocistos de boa qualidade, e essa taxa é menor do que em pacientes com KIR Bx. O uso de Filgrastim parece aumentar significativamente a OPR para receptoras com falha de implantação, tanto com KIR AA quanto com KIR BB, embora um benefício maior tenha sido observado no grupo KIR AA. Considerando a OPR muito baixa encontrada em receptoras KIR AA sem o uso de Filgrastim, a genotipagem de KIR e o uso de Filgrastim podem ser considerados em casos de falha de implantação. No entanto, este é um estudo retrospectivo e um estudo randomizado com um maior número de pacientes é necessário para se chegar a conclusões definitivas.

Confira o PDF do estudo apresentado no CBRA 2024

  1. Referencias
  1. Alecsandru D, et al. Fertil Steril. 2020 Oct;114(4):809-817. PMID: 32741616.
  2. Alecsandru D, et al Fertil Steril. 2017 Jun;107(6):1273-1278. PMID: 28501365.
  3. Busnelli A, et al. Sci Rep. 2021 Jan 18;11(1):1747. PMID: 33462292.
  4. Cozzolino M. J Reprod Immunol. 2024 Aug 2;165:104310. PMID: 39106544.
  5. Jiang Y, et al. J Gynecol Obstet Hum Reprod. 2020 Jul 11:101866. PMID: 32663652.
  6. Jiang Y, et al. J Gynecol Obstet Hum Reprod. 2020 Jul 11:101866. PMID: 32663652.
  7. Wu W, et al. Gynecol Endocrinol. 2022 May;38(5):443-447. PMID: 35244509.
  8. Yang X, Meng T. Exp Ther Med. 2021 Oct;22(4):1178. PMID: 34504623.
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