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Mulheres que desejam engravidar devem estar em dia com o calendário de vacinação

Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Vacinação antes da gravidez e tratamentos de infertilidade

Não há dúvida de que uma das melhores e mais eficientes maneiras de se prevenir as doenças é pela imunização. As vacinas estimulam a produção de anticorpos no organismo, que farão a defesa natural contra as infecções às quais foram programados para combater. A imunização é tão importante e eficaz que frequentemente são realizadas campanhas pelos governos obrigando crianças e adultos a receberem vacinas.

É extremamente importante que as mulheres que pretendem ter um filho ou que serão submetidas a tratamentos de infertilidade tenham consciência da importância de estarem imunizadas contra doenças que poderão afetar o futuro de seus bebês e de suas gestações. Grande parte delas desconhece a importância de estar em dia com o calendário da vacinação recomendado e as sérias consequências de doenças, que podem ser evitadas, para si e para o bebê na gravidez. É importante que mulheres e casais sejam informados das recomendações antes de engravidarem.
O ideal é que a imunização sempre ocorra antes da gestação, uma vez que muitas vacinas não podem ser aplicadas durante a gravidez. As futuras gestantes devem proteger seus bebês antes mesmo de serem planejados.

A vacinação em mulheres em idade fértil ou em tratamento de fertilidade é fundamental, pois protege a mulher de doenças importantes, evita infecções intrauterinas, previne malformações fetais e até mesmo um aborto espontâneo, além de dar uma imunização passiva ao bebê, pela transferência de anticorpos via transplacentária, que ocorre durante a gestação (principalmente durante as últimas quatro ou seis semanas) e pelo leite materno no período de amamentação. Durante a gravidez, a vacinação só deve ser indicada em situações de perigo quando os benefícios são superiores aos riscos. Exemplos: viagens para locais de alto risco de contaminação, profissões de risco e doenças crônicas. Nessas situações o uso de Imunoglobulinas é uma boa alternativa. Deve-se lembrar que quando a mulher não estiver imunizada e já tiver dado à luz o primeiro bebê, recomenda-se que, logo após o nascimento, ainda no período chamado puerpério, ela receba as vacinas indicadas, uma vez que estará frequentando centros de vacinação com o seu filho e provavelmente não deverá engravidar nos próximos meses.

A vacinação para mulheres que desejam engravidar está resumida na Tabela 1, publicada nos Estados Unidos pela CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e ampliada pelo IPGO em um estudo realizado que se baseou em pesquisa bibliográfica mundial. Por essas pesquisas recomenda-se que a imunização deve ser feita antes do início do tratamento de infertilidade.

Classificação das vacinas

1- Vacinas vivas atenuadas
Compostas de microrganismos vivos atenuados em laboratório, que devem ser capazes de se multiplicar no organismo hospedeiro, para que possa ocorrer a estimulação de uma resposta imune idêntica à produzida pela infecção natural. Exemplos de vacinas vivas atenuadas: sarampo, caxumba, rubéola, febre amarela, varicela.

Pneumococo

É indicada para mulheres que têm chance aumentada de contrair essa infecção. São pacientes que sofrem de diabetes, doenças crônicas, cardíacas e pulmonares e doenças que provocam imunodepressão. Devem receber essa vacina antes de ficarem grávidas ou na gestação em situações de risco.

A vacina antipneumocócica reduz o risco de infecções graves causadas pelo Streptococcus pneumoniae (“pneumococo”).  Essa bactéria é causa comum de infecções respiratórias (otite, sinusite, pneumonia), e também pode ocasionar infecções generalizadas (meningite, sepse).

Meningococo

O meningococo é o principal agente causador de meningite bacteriana no Brasil. O tipo C vem sendo o mais incidente na maior parte do País. A doença atinge sobretudo crianças, mas também ocorre em adolescentes e adultos, principalmente durante surtos. Recomenda-se a vacinação de mulheres adolescentes e adultas com uma única dose da vacina meningocócica conjugada do tipo C.

Três tipos de vacinas estão atualmente disponíveis no Brasil: vacina polissacarídea tipo A+C, vacina polissacarídea tipo B+C, e a mais eficaz e recomendada no atual momento epidemiológico, a vacina conjugada contra Meningococo C.

A vacina conjugada contra Meningococo C pode ser aplicada em bebês a partir de dois meses de vida, num esquema de duas doses básicas e reforço após o primeiro ano de vida, ou em crianças com mais de um ano de idade sob o regime de dose única. Sua imunidade é duradoura, existindo estudos que sugerem que persista por toda a vida. Poucas reações são observadas.
Em maiores de dois anos, em casos específicos, principalmente de viajantes que vão se dirigir a áreas endêmicas para o tipo A (como a África e o Extremo Oriente), pode ser usada a vacina contra os tipos A e C. Existe a necessidade de se realizar um reforço a, no mínimo, cada 4 anos. No Brasil, esta vacina tem sido recomendada em diversas regiões e é indicada principalmente a grupos de risco (com falta de baço, imunodeficientes etc.) ou durante surtos e epidemias. Também pode ser aplicada em gestantes nas condições indicadas.

Hepatite A

A vacina para hepatite A pode ser aplicada em qualquer pessoa a partir do primeiro ano de vida, geralmente em esquema de duas doses, com intervalo de seis meses entre a primeira e a segunda. É constituída de vírus inativados, e sua eficácia é de aproximadamente 100%. Não faz parte do calendário vacinal obrigatório da criança no Brasil.

Em adultos, é recomendada para pacientes de risco, incluindo pacientes com doença hepática crônica, que recebem transfusões sanguíneas frequentes, trabalhadores da saúde e pessoas que viajam para áreas de risco. A atual prevalência para hepatite A no Brasil sugere que essa vacina seja considerada na proteção da paciente que deseja engravidar. Devem ser solicitados os testes sorológicos para verificar se a mulher é ou não imune à hepatite A. As suscetíveis devem ser vacinadas antes da gestação. Pode ser aplicada durante a gestação somente se houver risco elevado de exposição ao vírus. 

O uso da Imunoglobulina (imunização passiva) nas situações de risco pode ser uma boa alternativa.

Hepatite B

Utilizada para prevenir a hepatite B em qualquer idade. É aplicada rotineiramente em esquema de três doses. Atualmente, recomenda-se que as crianças recebam a primeira dose logo após o parto, nas primeiras 24 horas de vida. A segunda aplicação é realizada de um a dois meses após a primeira, e a terceira, após seis meses. Em sua composição existem fragmentos virais obtidos por engenharia genética, que promovem imunidade em cerca de 95% dos casos, com segurança e poucos efeitos colaterais. Faz parte do calendário vacinal obrigatório da criança.

Crianças a partir de dois anos de vida e adultos que necessitarem podem receber a vacina combinada contra as Hepatites A e B em regime de três doses, acarretando maior proteção e menor número de aplicações.

Para adultos, no Brasil, ela é encontrada nos centros de saúde, mas somente para pessoas de risco, que são pacientes em hemodiálise ou que recebem transfusões sanguíneas frequentes, profissionais da saúde, usuários de drogas injetáveis, parceiras de homens com hepatite B ou viajantes indo para áreas de alta incidência de hepatite B. Entretanto, considerando que a mulher portadora de hepatite B pode transmitir o vírus ao bebê durante o parto e que até 90% dos filhos das mães com hepatite B correm o risco de se tornarem portadores crônicos e ter sequelas como cirrose e câncer hepático, é recomendada a vacinação nas pacientes que desejam engravidar. Essa vacina deve ser usada na gestação somente em situações de risco.

Febre Amarela

Vacina de uso restrito aos habitantes de áreas endêmicas ou aos que para elas se dirigem. Constituída de vírus vivos e atenuados, pode ser aplicada por via subcutânea a partir dos nove meses de idade, pelo menos dez dias antes da viagem. É contraindicada para gestantes e pacientes imunossuprimidos, e deve-se esperar pelo menos 30 dias após a vacina para engravidar. Sua proteção persiste por dez anos, após os quais, e mantidos os riscos ambientais, deve ser reaplicada como reforço.

Febre amarela: é prudente evitá-la na gravidez por ser uma vacina de vírus vivo, atenuado. Mas, em situações de risco, devido à alta morbidade e mortalidade da doença, pode ser prescrita após o primeiro trimestre, a despeito do risco fetal, nos casos de exposição inevitável, como em viagens para áreas endêmicas.

Raiva

Utilizada em situações muito especiais, sua fórmula atual (células VERO), obtida da cultura do vírus em células humanas de laboratório, difere em muito da antiga vacina (Fuenzalida-Palacios), que causava um grande número de reações. Pode ser aplicada em regime de pré- exposição (profissionais que trabalham com animais) ou pós-exposição (mordidos por animais com risco de adquirir raiva), em esquema de três a cinco doses. Pode ser aplicada em gestantes. · Raiva: uso obrigatório quando houver exposição da gestante à doença. É permitida a imunização passiva na gestação.

HPV

De recente desenvolvimento, é composta de partes do HPV – o Vírus do Papiloma Humano – modificados geneticamente. Atualmente, já existem no Brasil duas vacinas disponíveis: a Gardasil, da Merck Sharp & Dohme, e a Cervarix, da GlaxoSmithKline. Em ambas as fórmulas estão os subtipos responsáveis por 70% dos casos de Câncer de Colo Uterino. A Gardasil, entretanto, apresenta em sua fórmula também componentes que evitam em até 90% as Verrugas Genitais. Recomenda-se o uso em mulheres de idade entre 9 e 26 anos, de preferência aquelas que ainda não tiveram relações sexuais. Ainda não existem estudos que justifiquem o seu uso em homens. O esquema de vacinação consiste em três doses: aos zero, dois e seis meses, com reforço realizado a cada três anos. Não deve ser usada na gestação.

COVID

As vacinas disponíveis no Brasil até o momento contra a COVID 19 são a Coronavac (vírus inativado), Pfizer (RNA mensageiro -recombinação genética) e as vacinas da Astrazeneca e Janssen (baseadas em vetores virais inativos). Devido a descrita de casos de trombose possivelmente associados a vacina da Astrazeneca o Ministério da Saúde recomenda em gestantes a aplicação das vacinas da Pfizer ou a Coronavac, com segurança em qualquer fase da gestação. As gestantes demonstram-se um grupo de maior risco para infecção pelo coronavírus e por isso a vacinação é tão importante. São recomendadas 3 doses, sendo o reforço após 6 meses da segunda dose, preferencialmente com a vacina da Pfizer.

Tabela 1: Imunização para mulheres adultas entre 19 e 45 anos

ImunizaçãoAgenteDoseAdministração na gestaçãoPuerpérioIntervalo para outra gestação
COVID-19Vacinas inativas ou de RNAmTrês doseSimSimNão
Sarampo, Caxumba e Rubéola (tríplice viral)Vacinas vivas atenuadasUma dose se não houver confirmação anterior de sorologia negativaNão* (B)Sim1 mês
(Varicela)CataporaVacinas vivas atenuadasDuas dosesNão* (B)Sim1 mês
Influenza(gripe)Vacinas inativadasUma dose no período de contágio máximo (inverno) – sugestão: entre abril e maioSimSimNenhum
Difteria – Tétano – Coqueluche ou Pertussis (dTaP)Vacinas inativadasUma dose a cada 10 anosSimSimNenhum
Difteria – Tétano(dT)Vacinas inativadasUma dose a cada 10 anosSimSimNenhum
PneumocócicaVacinas inativadasDose única para pessoas em situações especiais de riscoSimSimNenhum
Hepatite AVacinas inativadasDuas doses com intervalo de 6 mesesSim* (A)SimNenhum
Hepatite BVacinas inativadasTrês doses com intervalo de 1 mês entre a 1ª e a 2ª e de 5 meses entre a 2ª e a 3ª.SimSimNenhum
MeningocócicaVacinas inativadasDose única para pessoas que têm histórico de contatoSimSimNenhum 
RaivaVacinas inativadasDose única para pessoas em situações de risco muito especiaisSim* (A)SimNenhum
Febre AmarelaVacinas vivas atenuadasPara habitantes de áreas endêmicas ou os que a elas se dirigemNão* (B)Sim1 mês
HPVModificadasgeneticamenteTrês doses – suspender no caso de gestação inesperadaNãoSimApós a 3ª dose

A – Considerar situações de risco especial.

B- Vacinas contraindicadas na gestação: em situações de exposição, pode-se utilizar imunoglobulina (imunização passiva).

Conclusão:

●  A vacina em mulheres na idade reprodutiva, antes ou durante a gestação, confere a elas resistência a doenças e, ao recém-nascido, uma imunidade passiva.

●   A imunização deve ser realizada preferencialmente antes dos tratamentos de infertilidade, pois algumas delas não podem ser administradas no período da gestação.

●  A vacina MMR deve ser prescrita para todas as mulheres que não comprovarem imunidade desta doença.

●  A imunização para vírus influenza deve ser realizada antes, mas pode ser realizada durante a gravidez.

●  Catapora, Pneumococos, Hepatite A, Hepatite B e Meningococos são indicadas em condições específicas e devem ser aplicadas antes da gestação.

● Não existem indicações de que as vacinas Pneumococos, Hepatite A, Hepatite B e Meningococos, administradas durante a gravidez, causariam complicações à gestação

Referências

● 1. Schrag SJ, Fiore AE, Gonik B, Malik T, et al. Vaccination and perinatal infection prevention practices among obstetrician-gynecologists. Obstet Gynecol. 2003;101:704–710

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●  4. Munoz FM, Englund JA. Vaccines in pregnancy. Infect Dis Clin North Am. 2001;15:253–271

●   5. Gonik B, Fasano N, Foster S. The obstetrician-gynecologist’s role in adult immunization. Am J Obstet Gynecol. 2002;187:984–988

●  6. The Practice Committee of the American Society for Reproductive Medicine; Vaccination guidelines for female infertility patients , Fertility and Sterility ,Volume 86, Issue 5, Supplement , Pages S28-S30, November 2006

●   7. SBIM&FEBRASGO, Vacinação da Mulher, consenso 2010-2011

● 8. Chaves Netto, Hermógenes. Obstetrícia básica. Capítulo 16, páginas 167 a 178; Chaves Netto, H; Sá, R.A.M., 1ª edição, 2004.

●  9. Nogueira S.A., Reis M.A.B., Lambert J.S. Manual para diagnóstico e tratamento de infecções na gravidez, páginas 102 a 109; Martins, R.M., 1ª edição, 2000

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