No dia 1º de julho de 2025, durante o congresso europeu de reprodução humana (ESHRE), um estudo foi apresentado por pesquisadores do hospital The Royal Women’s, na Austrália, com um tema de grande interesse: o uso do plasma rico em plaquetas (PRP) dentro do útero como uma possível solução para mulheres que enfrentam falhas repetidas na implantação de embriões durante tratamentos de fertilização in vitro (FIV).
O que é PRP?
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ToggleO PRP é um concentrado feito a partir do próprio sangue da paciente, rico em substâncias que estimulam a regeneração celular e a cicatrização. Ele já é usado em outras áreas da medicina e passou a ser testado também na ginecologia e reprodução assistida.
O objetivo do estudo:
O time liderado por Ezri Chow realizou uma meta-análise, ou seja, reuniu dados de dezenas de estudos anteriores, totalizando milhares de pacientes, para investigar se a infusão de PRP no útero antes da transferência de embriões pode melhorar os resultados em mulheres com várias falhas anteriores de implantação (chamadas de RIF – Recurrent Implantation Failure).
O que foi encontrado?
A análise foi dividida em três tipos de desfechos:
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- Gravidez bioquímica (detectada por exame de sangue):
Mulheres que receberam PRP tiveram 52% mais chances de engravidar nessa fase inicial (RR 1,52; p < 0,00001).
- Gravidez bioquímica (detectada por exame de sangue):
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- Gravidez clínica (confirmada por ultrassom):
Também houve um aumento de 60% nas taxas de gravidez clínica no grupo PRP em comparação ao grupo controle (RR 1,60; p < 0,00001).
- Gravidez clínica (confirmada por ultrassom):
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- Gravidez em andamento e nascimentos vivos:
O resultado mais impressionante: mulheres tratadas com PRP tiveram mais que o dobro de chances de manter a gestação e ter um bebê saudável nascido (RR 2,36; p = 0,0002).
- Gravidez em andamento e nascimentos vivos:
Esses achados foram consistentes mesmo em estudos randomizados e bem controlados.
Mas há controvérsias
Apesar dos resultados animadores, o grupo de trabalho da própria ESHRE ainda não recomenda o uso do PRP como rotina clínica. Segundo a diretriz publicada por Cimadomo et al. (2023), os motivos são:
• Algumas meta-análises anteriores estão desatualizadas;
• Nem todos os estudos têm alto nível de evidência;
• Há variação nos resultados entre os estudos.
Conclusão para pacientes:
Se você já passou por múltiplas tentativas de FIV sem sucesso, o PRP pode ser uma opção complementar promissora, especialmente se for feito em centros especializados.
O novo estudo apresentado na ESHRE 2025 traz uma evidência científica mais forte e atualizada, indicando que talvez seja o momento de revisar diretrizes antigas e dar uma chance a esse tratamento inovador.
Converse com seu médico sobre o PRP. Ele pode representar uma nova esperança em sua jornada para a maternidade.
Plasma Rico em Plaquetas (PRP) Intrauterino: 10 perguntas e respostas que toda mulher precisa saber
O PRP (Plasma Rico em Plaquetas) intrauterino é feito a partir do próprio sangue da paciente. Após processado, ele fica concentrado em plaquetas e fatores de crescimento que ajudam na regeneração dos tecidos.
Quando aplicado dentro do útero, o PRP melhora o ambiente endometrial, tornando-o mais receptivo para a implantação do embrião. Não é uma aplicação nos ovários, mas sim diretamente na cavidade uterina.
Ele é indicado principalmente para mulheres com falhas repetidas de implantação (RIF – Recurrent Implantation Failure), quando os embriões não conseguem se fixar no útero mesmo após várias transferências.
Não. Apesar dos resultados promissores, a ESHRE (Sociedade Europeia de Reprodução) ainda não recomenda o PRP intrauterino como rotina. Isso porque ainda faltam estudos maiores e mais padronizados para confirmar definitivamente seus benefícios (Cimadomo et al., 2025).
Sim. Como o PRP é feito com o próprio sangue da paciente, o risco de rejeição é praticamente inexistente. Nos estudos publicados (Nazari et al., 2020; Baybordi et al., 2022), não foram relatados efeitos colaterais graves.
Normalmente, uma única aplicação, feita alguns dias antes da transferência do embrião, é suficiente. Em casos específicos, o médico pode recomendar mais de uma aplicação.
Depende do caso, mas os resultados são encorajadores:
Segundo Soliman et al. (2023), o PRP intrauterino aumentou significativamente as taxas de gravidez clínica (RR 4,35) e de nascimento vivo (RR 4,03) em comparação com mulheres que não receberam o tratamento.
Porque a recomendação oficial ainda não foi atualizada. A ESHRE (Cimadomo et al., 2023) prefere aguardar mais pesquisas de alta qualidade antes de incluir o PRP intrauterino como parte dos tratamentos de rotina.
Sim. Para mulheres que já passaram por várias tentativas sem sucesso, o PRP intrauterino pode ser uma opção complementar promissora. Converse com seu médico especialista em reprodução para saber se ele pode fazer parte do seu próximo ciclo.
Referência bibliográfica.
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1. Liu X‑H et al.Effects of autologous platelet‑rich plasma intrauterine perfusion on clinical outcomes in recurrent implantation failure patients with non‑thin endometrium undergoing frozen‑thawed embryo transfer. Arch Gynecol Obstet. 2025;311(5):1423‑1433.Ensaio clínico randomizado demonstrando eficácia do PRP em ciclos de transferência embrionária congelada‑descongelada, com melhora significativa na gravidez clínica  .2.Soliman A et al.How autologous platelet‑rich plasma affects pregnancy and birth outcomes in women with repeated embryo implantation failure: A prisma‑compliant meta‑analysis. Turk J Obstet Gynecol. 2023;20(2):154‑163.Meta‑análise incluindo 8 RCTs (1 038 mulheres) mostrando aumento significativo nas taxas de gravidez química (RR 1,96), clínica (RR 4,35) e nascimentos vivos (RR 4,03) com PRP .3.Baybordi E et al.The effect of platelet‑rich plasma on the improvement of pregnancy results in repeated implantation failure: A randomized controlled trial. Int J Reprod Biomed. 2022;20(9):753‑760.RCT triple-cego com 118 mulheres; o grupo PRP apresentou maior taxa de gravidez bioquímica, embora sem significância estatística (OR 2,20; p = 0,073) .4.Nazari L et al.The effects of autologous platelet‑rich plasma in repeated implantation failure: a randomized controlled trial. Hum Fertil (Camb). 2020;23(3):209‑213.RCT com 97 mulheres (≥3 tentativas de FIV sem sucesso); taxas significativamente maiores de gravidez química (53% vs 27%, p=0.009) e clínica (45% vs 17%, p=0.003) no grupo PRP .5.Cimadomo D et al.Is it justified to offer intrauterine infusion of autologous PRP in women with repeated implantation failure? Hum Reprod. 2025;40(5):771‑784.Revisão sistemática recente que aponta melhora nas taxas de gravidez com PRP, mas ressalta baixa qualidade dos estudos e necessidade de ensaios mais robustos  .Essas publicações reforçam os resultados apresentados na ESHRE 2025, indicando que o PRP intrauterino pode melhorar as chances de gravidez em mulheres com RIF, embora ainda seja necessário mais evidência de alta qualidade para adoção clínica amança.