Embora um espermograma completo possa demonstrar normalidade na concentração, mobilidade e na morfologia de Kruger dos espermatozoides e este seja um exame fundamental para nortear os tratamentos de infertilidade, em muitos casos, os resultados obtidos, mesmo que normais, podem ser insuficientes para concluir a saúde reprodutiva total do A pesquisa da fragmentação do DNA do espermatozoide complementa essa primeira, pois essas alterações, caso identificadas, podem ser responsáveis pela dificuldade de engravidar e pelos insucessos dos tratamentos de fertilização in vitro e abortos. Quando as taxas de fragmentação forem superiores a 16%, a chance de sucesso de gestação natural e dos tratamentos de fertilização assistida será menor. As causas mais comuns dessa alteração são o estresse oxidativo, dieta inadequada, poluição, fumo, drogas e idade avançada, além de outras ainda em estudo.
A erradicação dessas causas pode melhorar esse problema, mas, se isso não for suficiente, o tratamento com medicamentos antioxidantes poderá ajudar a reverter o processo. Durante a fertilização in vitro, utiliza-se um recurso laboratorial chamado PICSI (Physiological Intracytoplasmatic Sperm Injection – injeção intracitoplasmática de espermatozoide fisiológica), que consiste em selecionar os espermatozoides para serem injetados no óvulo de um modo semelhante ao que ocorre naturalmente no organismo. Nesse caso, o esperma é colocado em uma placa laboratorial contendo ácido hialurônico (Hyalozima), substância também encontrada na camada externa dos óvulos. Essa substância atrai os espermatozoides de melhor qualidade, que serão isolados e encaminhados para a fertilização. Em alguns casos, podem ser prescritos antibióticos e, em situações extremas, poderá ser realizada a punção dos espermatozoides diretamente do testículo, onde costumam ter grau menor de fragmentação. Essa alteração do espermatozoide pode influenciar negativamente as chances de gravidez.
Zymot: Técnica de microfluído para seleção de espermatozoides
A seleção seminal é uma etapa importante do tratamento de reprodução assistida, tanto nos ciclos de baixa complexidade (IIU) quanto na fertilização in vitro (FIV), e tem como objetivo melhorar as taxas de fertilização, a qualidade embrionária e as taxas de nascidos vivos. Nas técnicas de processamento seminais conhecidas, como gradiente ou swim-up, é realizada a centrifugação do material, o que pode ter como efeito adverso uma redução na integridade do DNA do espermatozoide e um aumento da liberação de radicais livres.
A reprodução humana está em constante inovação e nos últimos anos as mudanças com maior impacto nas taxas de sucesso ocorreram no laboratório de embriologia. Novas incubadoras (time laspse), novas técnicas para realização de biópsia embrionária e seleção embrionária e agora temos novas técnicas para obter espermatozoides de melhor qualidade. Essa nova técnica conhecida com Zymot ou Fertile Chip é um chip de micro fluído que simula a seleção espermática que ocorre no organismo feminino, sem a necessidade de centrifugação das demais técnicas e consequentemente com menor formação de radicais livres e menor fragmentação do DNA. De maneira simplificada a amostra do sêmen é colocada numa placa e o espermatozoide vai passando por uma espécie de filtro, selecionando-se assim aqueles espermatozoides com melhor potencial. O preparo da amostra é de fácil realização, com menor tempo de preparo (ao redor de 30 min) e tem custo relativamente baixo. Esta técnica pode ser utilizada no preparo do sêmen para IIU, FIV e ICSI.
Diversos estudos foram publicados na tentativa de avaliar esta nova técnica e comparar com as técnicas já consagradas e o que se observou foi a diminuição das taxas de espermatozoides com fragmentação e em alguns estudos melhora na qualidade embrionária e aumento nas taxas de embriões euplóides, sem entretanto afetar a taxa de gestação.
Ainda não é possível afirmar que esta nova técnica interfira positivamente na taxa de nascidos vivos e estudo mais robustos são necessários, mas já é um grande passo adquirirmos ferramentas novas que possam nos aproximar do nosso grande objetivo!! Talvez não seja algo que deva ser usado em todos os casos e ainda precisamos de estudos para definir qual casal realmente se beneficiaria desta técnica. A medicina está em constante evolução e não é feita de verdades absolutas e sim de verdades transitórias e nosso papel é se manter em constante atualização para poder oferecer o que há de melhor para nossos pacientes.