Navegue pelo conteúdo do Post

Ressecção Mecânica do Endométrio como Alternativa Terapêutica para Endometrite Crônica Refratária: Proposta Técnica Segura e Inovadora

A endometrite crônica é uma patologia inflamatória do endométrio frequentemente subdiagnosticada, mas reconhecidamente associada à infertilidade, falhas repetidas de implantação embrionária e perdas gestacionais recorrentes. Em sua forma refratária, a doença não responde adequadamente ao tratamento antibiótico, mesmo quando este é guiado por cultura e sensibilidade, o que demanda alternativas terapêuticas inovadoras. Apresentamos aqui o uso da ressecção mecânica do endométrio, realizada por histeroscopia e sem uso de corrente elétrica, como proposta de intervenção terapêutica para casos selecionados de endometrite crônica resistente ao tratamento convencional.

introdução

A endometrite crônica é caracterizada pela presença persistente de células inflamatórias no estroma endometrial, particularmente os plasmócitos, acompanhada de manifestações clínicas sutis ou ausentes. A detecção depende de avaliação histológica e histeroscópica criteriosa. A principal consequência clínica é a alteração da receptividade endometrial, o que compromete a implantação embrionária e a manutenção da gestação.

Embora o tratamento com antibióticos (geralmente doxiciclina e metronidazol, associados ou não a fluoroquinolonas) seja considerado eficaz, uma proporção significativa de pacientes não responde de forma satisfatória. Nesses casos, o endométrio permanece alterado, tanto histologicamente quanto funcionalmente, abrindo espaço para abordagens complementares.

objetivo

Descrever uma técnica alternativa de tratamento para endometrite crônica refratária, baseada na ressecção mecânica seletiva de áreas endometriais inflamadas por via histeroscópica, utilizando sistema sem energia elétrica, e discutir sua segurança e aplicabilidade clínica.

materiais e métodos

Paciente

Mulher jovem com quadro de infertilidade de longa data, múltiplas falhas de implantação embrionária em ciclos de fertilização in vitro, biópsias endometriais com presença persistente de plasmócitos e histeroscopias mostrando micropólipos e hiperemia focal. A paciente realizou três ciclos de antibióticos diferentes, todos sem resposta histológica satisfatória.

Técnica

Foi realizada histeroscopia diagnóstica com identificação de áreas sugestivas de endometrite crônica (edema, micropólipos, vascularização aumentada). Utilizou-se sistema de ressecção mecânica (TruClear™), que opera por morcelação rotativa e aspiração simultânea, permitindo retirada precisa do tecido endometrial superficial, sem uso de corrente elétrica.

A ressecção foi seletiva, direcionada apenas às áreas visivelmente alteradas. Não foram abordadas as zonas normais do endométrio. O procedimento durou aproximadamente 12 minutos, sem intercorrências, com sangramento mínimo e sem necessidade de eletrocoagulação.

resultados

  • A paciente foi submetida a nova biópsia endometrial três semanas após o procedimento, com desaparecimento de plasmócitos.
  • Não foram observadas aderências, sinéquias ou alterações cicatriciais à histeroscopia de controle.
  • O ciclo menstrual seguinte evoluiu normalmente.
  • Posteriormente, em novo ciclo de FIV, houve implantação bem-sucedida de embrião e evolução para gestação clínica confirmada por ultrassonografia.

discussões

A ressecção mecânica do endométrio já é uma técnica amplamente validada para:

  • Ressecção de pólipos endometriais;
  • Remoção de miomas submucosos tipo 0 e 1;
  • Retirada de restos placentários;
  • Tratamento de sinéquias leves com visualização direta.

O uso dessa técnica em casos de endometrite crônica refratária ainda não foi descrito formalmente na literatura científica. No entanto, sua aplicação aqui é baseada em sólida plausibilidade clínica e experiência prévia em indicações semelhantes, onde há necessidade de remover tecido endometrial patológico com máxima segurança e mínima agressividade.

O grande diferencial desta técnica é o não uso de energia térmica, o que preserva a integridade da camada basal do endométrio e reduz drasticamente o risco de danos permanentes, como atrofia ou sinéquias. Portanto, trata-se de um procedimento reprodutivamente seguro, com baixo risco de complicações e potencial de restaurar a função endometrial normal.

Em casos de inflamação persistente focal, a remoção seletiva dessas áreas pode reduzir a carga antigênica e inflamatória, melhorando a receptividade endometrial e potencializando o sucesso das técnicas de reprodução assistida.

conclusão

A ressecção mecânica do endométrio por histeroscopia, sem uso de energia elétrica, representa uma abordagem inovadora, segura e fisiologicamente racional para casos de endometrite crônica refratária ao tratamento clínico convencional. O procedimento é tecnicamente simples, reprodutivamente seguro e pode ser considerado em pacientes selecionadas com falhas terapêuticas recorrentes.

São necessários estudos prospectivos e controlados para avaliar a eficácia reprodutiva dessa abordagem e definir suas reais indicações, mas a experiência aqui descrita abre uma nova perspectiva terapêutica no manejo dessa condição desafiador

referências bibliográficas

  1. Smith PP, Middleton LJ et al. Hysteroscopic Morcellation Compared With Electrical Resection of Endometrial Polyps: RCT. Obstet Gynecol. 2014;123(4):745–751   
  2. Rovira Pampalona J et al. Outpatient Polypectomy: Mechanical TRUCLEAR vs Bipolar Electrosurgery. Gynecol Obstet Invest. 2015;80(1):3–9  
  3. Fakhar S, Tasneem M, Zahid T. Outcomes of Mechanical Resection Through TruClear™ Hysteroscopy. J Coll Physicians Surg Pak. 2024;34(8):885–890  
  4. Hirota Y et al. Meta-analysis: Mechanical vs Electrosurgical Resection for Cavitary Lesions. 2025
  5. Ota K et al. Management of Post-Molar Neoplasia Using Mechanical Tissue Removal System. J Surg Case Rep. 2025  
  6. ResearchGate Review. Use of Mechanical Tissue Removal Devices in Hysteroscopy. 2025

Compartilhe:
Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on telegram
Share on linkedin

Tem alguma dúvida sobre esse assunto?

Envie a sua pergunta sobre assunto que eu responderei o mais breve possível!

Para mais informações entre em contato com o IPGO

Fale conosco por WhatsApp, e-mail ou telefone

Posts Recentes:
Newsletter
Inscreva-se na nossa newsletter e fique por dentro de tudo!