Diferente do capítulo 4, que aponta alterações naturais e inocentes para gestação, este apresenta atitudes e comportamentos que interferem no bem estar da mãe e do bebê, aos quais a gestante deve estar sempre alerta. Com estas informações, a futura mamãe pode evitar perigos desnecessários à sua saúde e à saúde do bebê, ao mesmo tempo que as pessoas que estão ao seu redor podem dar apoio e ajudá-la a evitar exposição a tais riscos.
A partir da fecundação, dá-se início a um processo extremamente complexo e delicado. Desde o momento da concepção, as células dividem-se e diferenciam-se para formar os órgãos do bebê, até que, 9 meses depois, um pequeno ser humano nasce. A maioria dos bebês nasce normal e saudável, mas, infelizmente, nem todos vêm ao mundo com seu potencial físico e mental em ótimas condições.
Entre as causas que resultam em bebês imperfeitos, as ambientais são muito importantes, como por exemplo: drogas, raios X, medicamentos, fumo, algumas doenças infecciosas, etc, e, até mesmo, o próprio parto pode ser perigoso se não houver uma boa assistência.
Existem outras causas, mas são de origem genética, e não podem ser controladas, apesar de poderem ser detectadas no período pré-natal.
Índice
TogglePara o bom desenvolvimento do feto, a gestante deve estar com o organismo em boas condições. Comer apropriadamente, evitar cigarros, excesso de bebidas alcoólicas e medicamentos desnecessários são características de um padrão consciencioso de boa saúde, além de ser tremendamente benéfico para a gravidez.
MEDICAMENTOS PROIBIDOS E PERMITIDOS
Os medicamentos que podem causar alterações no desenvolvimento fetal são chamados de teratogênicos. Os teratogênicos conhecidos podem causar inúmeras imperfeições, incluindo-se aí, deficiência no crescimento do bebê.
Potencialmente, qualquer droga pode ser teratogênica. Não tome nenhuma medicação sem a autorização do médico. Se você toma medicações por apresentar alguma doença crônica entre em contato com seu médico e explique o desejo da gravidez. Algumas medicações podem ser trocadas por outras antes de se iniciar a gestação. Caso você engravide de surpresa, assim que tiver o diagnóstico de gravidez, entre em contato com seu médico para avaliação de necessidade de troca da medicação.
INFECÇÕES
Controlar ou evitar infecções é um outro fator fundamental para o bem estar do concepto. Quando a gestante tem uma infecção, por vírus ou bactéria, estes, caindo na corrente sanguínea, podem infectar a criança, que, por sua vez, tem uma capacidade muito limitada para se proteger contra as infecções. Uma vez infectado, poderão ocorrer problemas sérios em seu desenvolvimento. Manter a carteira de vacinação atualizada é fundamental para se evitar infecções passiveis de prevenção durante a gravidez.
Felizmente não existe preocupações com respeito ao resfriado comum ou a uma grande parte das doenças infecciosas que ocorrem durante a gravidez. A seguir, mostraremos algumas das infecções da mãe que podem alterar o desenvolvimento do bebê, mesmo quando a própria gestante não está seriamente doente.
RUBÉOLA
Essa doença é benigna na maioria dos adultos. Se a gestante contrair esta moléstia nos 3 primeiros meses de gravidez, existe um sério risco de o bebê ser infectado. A criança pode sofrer problemas como deficiência mental ou do crescimento, além de surdez, catarata e defeitos no coração.
Não existe tratamento efetivo para essas anomalias. Em caso de dúvida, estudos podem ser feitos para pesquisa de anticorpos no sangue, a fim de detectar uma rubéola recente. O aumento desses anticorpos no sangue do tipo IgM, indicará uma infecção recente. A vacina contra a rubéola tem sido usada com grande efetividade na prevenção da doença. Todas as crianças deveriam receber essa vacina. Mulheres com intenção de engravidar devem tomá-la nos exames pré-nupciais, caso ainda não tenham tido rubéola ou recebido a vacina anteriormente.
HERPES GENITAL SIMPLE
Esse vírus é bastante importante no que tange a doenças sexualmente transmissíveis e, até o momento, não há solução para esse problema.
A gestante com essa infecção raramente infecta o bebê antes do nascimento, todavia, se a época da crise coincidir com o parto – o momento da passagem do feto pela vagina – este poderá ser contaminado. O vírus pode não causar apenas a doença da forma igual a do adulto (uma erupção bolhosa), mas poderá, também, causar sérias alterações no cérebro do bebê, levando-o à deficiência mental. A mulher contaminada pode ter uma ou mais feridas na região vaginal. Se a infecção de herpes genital na mãe for descoberta na época do nascimento, o parto deverá ser, sem dúvida, cesariana.
Entretanto, embora a fase mais propícia para o contágio seja quando da presença de vesículas, a secreção vaginal pode também contaminar. As próprias lesões, antes de se manifestarem clinicamente, podem estar numa fase subclínica e, nesse caso, são potencialmente capazes de transmitir o vírus. Assim, a cesárea, hoje, tem suas indicações ampliadas a todos os casos de herpes genital, independentemente de a paciente estar em crise ou não na época próxima do parto. Para mulheres que querem parto normal e tiveram herpes genital tratada na gravidez é possível a supressão viral com uso de medicações a partir de 36 semanas até o parto. Evita-se assim a transmissão vertical (da mãe para o feto) do vírus do herpes.
SÍFILIS
Os exames rotineiros para sífilis no início da gravidez, juntamente com tratamento efetivo com antibióticos na mulher contaminada, têm reduzido de maneira marcante o número de bebês nascidos com sífilis congênita. A sífilis pode ser transmitida pela placenta, e quando não tratada causa ao feto alterações a curto e longo prazo. Ocorrem mudanças no sistema nervoso, nos dentes, na pele e nos ossos.
Recentemente tem-se diagnosticado uma epidemia de sífilis no Brasil, principalmente no período gestacional. A pesquisa durante o pré-natal, o tratamento do casal, assim como o acompanhamento após o tratamento é de extrema importância para evitar o aparecimento da sífilis congênita.
TOXOPLASMOSE
Esse agente é um microrganismo, similar à malária. Raramente produz uma doença séria no adulto. No feto, porém, poderá causar deficiência mental e alterações no crescimento da criança.
Se a mulher já teve toxoplasmose antes da gravidez ela é considerada imune e o feto não corre riscos; a exceção se faz em mulheres imunodeficientes graves. Se a mulher não teve infecção prévio a gravidez é necessário que algumas medidas preventivas sejam realizadas
- Não ingerir carnes cruas, mal-cozidas ou mal passadas;
- Lavar as mãos ao manipular alimentos, principalmente carnes cruas;
- Após manusear a carne crua, lavar bem as mãos, assim como também toda
- a superfície que entrou em contato com o alimento e todos os utensílios utilizados;
- Lavar bem frutas, legumes e verduras antes de se alimentar;
- Se tem o costume de fazer jardinagem ou mexer com plantação usar luvas e lavar
bem as mãos após contato com o solo e terra de jardim; - Evitar contato com fezes de gato no lixo ou solo;
- Não consumir leite e seus derivados crus, não pasteurizados, seja de vaca ou de cabra;
- Propor que outra pessoa limpe a caixa de areia dos gatos, caso não seja possível,
limpá-la e trocá-la diariamente, utilizando luvas e pazinha; - Alimentar os gatos com carne cozida ou ração não deixando que estes ingiram
sua caça; - Lavar bem as mãos após contato com os animais
Ainda assim se apesar dos cuidados for diagnosticado infecção recente por toxoplasmose, e portanto, na gravidez com risco de contaminação do feto é necessário tratamento da mãe e pesquisa no feto para saber se ele foi contaminado pela infecção. Se sim, é possível realizar o tratamento fetal.
CITOMEGALOVÍRUS
É um vírus que integra a família das herpes, e a contaminação é feita por secreções contaminadas, como sangue, saliva, leite materno e outros. A doença, no adulto, é geralmente assintomática, mas pode provocar sintomas semelhantes a qualquer outra infecção viral e, por isso, seu diagnóstico só pode ser feito por meio de exame de sangue. A transmissão para o bebê é feita pelo sangue durante a gravidez, só quando a mãe possui a infecção na fase aguda da doença. No recém-nascido causa alterações no coração, pulmão, fígado, entre outros. Não há tratamento especifico para o citomegalovírus na gravidez.
HIV
A chance de transmissão do HIV, de mães sem tratamento durante a gestação para o bebê, é de 13% a 39%, podendo ocorrer via transplacentária (durante a gestação), via intraparto, por contato com sangue e secreções maternas contaminadas, ou, ainda, pelo leite materno. Alguns fatores aumentam a chance de transmissão, como por exemplo: estágio clínico avançado da doença, carga viral elevada e coexistência de outras infecções. Os recém-nascidos contaminados com HIV, raramente apresentam sintoma nos primeiros 5 meses de vida. A maioria desenvolve a doença apenas após o 5º ano de vida, entretanto, 10% a 15% dos bebês infectados podem morrer aos 4 anos de idade, geralmente antes dos 18 meses.
Gestantes com diagnóstico de HIV deverão realizar tratamento antirretroviral. Tratamento adequado geralmente negativa a circulação viral no sangue materno, e portanto, a transmissão do HIV para o bebê (transmissão menor do que 1%). A depender da carga viral mensurada a partir da 35a semana de gestação é possível o parto normal sem aumentar o risco de transmissão para o bebê. Infelizmente, não está recomendado o aleitamento materno pelo risco de transmissão para a criança.
HEPATITES A, B E C
A hepatite B merece uma grande atenção. Quando a mãe tem o vírus da hepatite B (infecção aguda), ou é portadora crônica, este pode ser transmitido para o bebê, principalmente durante o trabalho de parto, devido ao contato com sangue e secreções maternas contaminadas.
É fundamental pedirmos a sorologia para hepatite B (exame de sangue) durante o pré-natal, pois, se positivo, a depender da carga viral materna, é possível tratar a mãe para diminuir a possibilidade de transmissão para o bebê. De qualquer forma, o tratamento para o recém-nascido será iniciado logo após o nascimento, diminuindo muito as complicações.
Quando a hepatite aguda ocorre no primeiro trimestre de gravidez, a taxa de transmissão é de aproximadamente 10%, e de 80% a 90% quando adquirida no terceiro trimestre.
As crianças infectadas pelo vírus da hepatite B podem evoluir com a doença subclínica ou desenvolver no futuro problemas sérios.
A prevenção da hepatite pode ser realizada com a vacina, que deve ser sempre administrada em mulheres com sorologia negativa que desejam engravidar, ou mesmo durante a gravidez.
A hepatite A é pouco importante e dificilmente é transmitida ao feto. A hepatite C, assim como a hepatite B pode ser tratada durante a gestação, diminuindo, assim, a chance de transmissão para o bebê. Esta transmissão, se ocorrer, tende a desaparecer após o 6º mês de vida.
H.P.V
O Papilomavirus Humano tem provocado, nos últimos vinte anos, um enorme interesse. É uma doença sexualmente transmissível e, ao que tudo indica, de alta infectividade. Com a vacinação do HPV entre adolescentes e em mulheres adultas (quando indicado), houve uma diminuição dos casos de condilomatose na população geral, incluindo na gravidez. Gestantes com condilomatose não apresentam contraindicação absoluta ao parto normal visto que a transmissão para o feto é extremamente rara. A decisão pelo parto cesariana ou não será realizada após discussão dos riscos e benefícios entre a gestante, o parceiro e o médico.
RAIO X
As radiações não são, hoje, tão perigosas como no passado, quando eram usadas no tratamento de enfermidades. Há algum tempo, causavam no bebê desenvolvimento incompleto do cérebro (anencefalia) e deficiência mental. Embora não se recomende a exposição ao raio X, é muito comum que a grávida, em algumas circunstâncias, seja submetida a esse exame. A gestante deve ficar tranquila pois mesmo que isso tenha ocorrido no início da gravidez, quando nem sabia que estava grávida, essa irradiação só será perigosa quando emitida em grande quantidade, o que é difícil nos exames comuns. Quando for realmente necessário, pode-se fazer uso do avental de chumbo que protege ainda mais o bebê das irradiações.
Mesmo outros exames mais potentes e com maior teor de radiação são potencialmente seguros durante a gravidez. Claro que é sempre recomendado evitar qualquer exame de imagem na gravidez. Porém, as vezes necessário para diagnósticos de enfermidades importantes, deve-se avaliar riscos e benefícios para sua realização. A tabela abaixo mostra a quantidade média de radiação (em mGy). Vale ressaltar que efeitos deletérios não são esperados em períodos críticos do desenvolvimento (embriogênese), a não ser que a dose exceda a 50–100 mGy.
CUIDADOS COM OS DENTES, GENGIVAS E VISITAS AO DENTISTA
Há, frequentemente, piora das condições dentárias durante a gestação. As cáries aparecem e quando existentes pioram. A gengivite (inflamação das gengivas) é comum, apresentando sangramentos frequentes. A higiene bucal deve ser rigorosa. O dentista deve ser consultado, se possível, no 2º e no 6º mês de gestação. Se houver necessidade de anestesia, não há problema, pois o risco para a gravidez é insignificante, desde que o anestésico usado seja sem vasoconstrictor.
CINTA
Genericamente falando, usá-las ou não, vai depender do seu conforto. As dores nas costas, em especial, incidem na gravidez devido à mudança no mecanismo dinâmico de sustentação do peso e podem ser aliviadas pelo apoio dado pela cinta de gestante, convenientemente adequada e bem-feita. A cinta não deve atrapalhar os movimentos respiratórios da parede abdominal, deve estar bem apertada no nível do osso ilíaco (bacia), e sustentar a região inferior do abdômen, nunca comprimindo sua parte superior. Deve servir como um apoio no abdômen, que se tornou grande pelo aumento do útero.
A partir do 4º ou 5º mês, as roupas apertadas não devem ser usadas. Nesse particular, vestuários bem adaptados e da moda são encontrados, podendo a mulher, no estado de gravidez, vestir-se de acordo com seu gosto.
SAPATOS
Os sapatos não devem ser de saltos muito altos nem muito baixos, pela postura característica da gestante. Os melhores sapatos são aqueles confortáveis, e que possuem um salto largo e baixo (3 a 5cm). Saltos de borracha evitam deslizamentos, além de diminuírem a quantidade de vibrações no andar. É bom lembrar de que as grávidas escorregam e caem muito. Nos últimos meses de gestação, os pés podem inchar um pouco; sapatos ligeiramente maiores podem ser necessários para o conforto. O uso de meias elásticas de média compressão é recomendado.
BANHOS DE SOL
Na gravidez é produzido em maior quantidade um hormônio chamado melanina, que age no corpo escurecendo rosto, pescoço, mamilos, genitais, virilhas e axilas. No seio, tem a função de evitar rachaduras. Na presença do sol, essa hiperpigmentação pode impregnar-se nessas partes do corpo, tornando difícil o seu desaparecimento. Por isso, recomenda-se tomar sol somente nos seguintes horários: de manhã até 9h30 e à tarde após 16h – atenção ao horário de verão é importante usar protetores solar, conforme recomendações no capítulo 10 “Cuidados estéticos”
BANHOS DE MAR, PISCINA E SAUNA
Não há nenhuma restrição. A gestante poderá entrar no mar. As pacientes sujeitas à instabilidade de pressão arterial devem evitar os banhos de sauna por levarem a grandes variações de temperatura. A pele deve permanecer limpa e seca, pois a secreção sebácea e o suor surgem em maior quantidade na gestante, o que pode ocasionar irritações cutâneas desagradáveis. Quando isso ocorre, devem ser usados cremes adequados para limpeza (leite de limpeza, loção tônica, e hidratantes indicados a cada tipo de pele).
REPOUSO E RECREAÇÃO
A futura mãe deve aprender a descansar com frequência, especialmente se continua exercendo sua atividade profissional ou seus afazeres domésticos. A mulher, que se cansa facilmente, irá beneficiar-se com um pequeno sono à tarde. Mesmo que não consiga dormir, é reconfortante um relaxamento completo em posição reclinada. A gestante que tem filhos pequenos pode fazer a sua sesta ao mesmo tempo que as crianças. Se durante o dia são feitos exercícios, não há necessidade de temer que um ligeiro cochilo, à tarde, prejudique o sono noturno. A gestante deve continuar com suas distrações favoritas, o que contribui para um melhor equilíbrio emocional. Não há razão para que se privem de outros entretenimentos de maneira ativa ou apenas como espectadoras. Lugares para diversões podem ser visitados, mas somente aqueles com boa ventilação. Recomenda-se evitar locais aglomerados.
VIAGENS
Viagens aéreas poderão ser feitas até o 7º mês de gravidez. As companhias aéreas exigem um atestado médico, que é dado pelo obstetra. Após o 7º mês, só é permitido fazer viagens curtas (com até 1 hora de duração) de carro, em rodovias tranquilas e não acidentadas ou esburacadas. No último mês de gestação, a paciente deve estar sempre, no máximo, 60 minutos de distância da maternidade escolhida.