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Distúrbios Cardiovasculares

De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares (DCV) são responsáveis por mais de 16 milhões de mortes ao ano no planeta. Suas projeções confirmam que esta deverá ser a causa principal de morte e incapacitação no ano de 2020. As doenças cardiovasculares constituem um grave problema de saúde pública no Brasil. Embora o número de mortes por este problema venha aumentando, a taxa de mortalidade por essa causa vem decrescendo em ambos os sexos em nosso país, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, ou seja, o número de mortes acompanha o crescimento da população, porém numa proporção muito menor.

Dentre as doenças cardiovasculares, a insuficiência cardíaca é a principal causa de internação hospitalar, sendo duas vezes mais freqüente que as internações por AVC (Acidente Vascular-Cerebral, também chamado de “derrame”).

O conceito de que as doenças cardiovasculares são problemas de saúde predominantes no sexo masculino levou a uma subestimação da significância deste problema de saúde na população feminina. Estima-se que dentre os milhões de mortes anuais ocorridas em mulheres em todo o mundo, cerca de um terço delas resulta de DCV, sendo que dois terços ocorrem em países em desenvolvimento. Este predomínio em países em desenvolvimento deve-se provavelmente a três fatores: redução de mortes por doenças infectoparasitárias, aumento da expectativa de vida associado a mudanças no estilo de vida, e padrão socioeconômico devido à urbanização, levando a exposição a um número maior de fatores de risco, além da suscetibilidade especial de determinadas populações ligadas à predisposição genética.

Observa-se um aumento significativo na expectativa de vida desde a segunda metade do século passado. Estima-se que esse aumento seja muito mais importante nos países menos desenvolvidos.

A população idosa nos países grandes em rápida ascenção econômica, tais como Indonésia, Índia e China, aumentará de 3 a 4 vezes nas próximas décadas, comparada com um relativamente menor crescimento nos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Europa. Esse aumento da longevidade tende a aumentar a incidência de DCV se medidas sérias de prevenção não forem adotadas.

Prevalência da doença cardiovascular nas mulheres

  • Uma em cada quatro mulheres tem doença cardiovascular.
  • Nos últimos anos o número de mortes por problemas cardiovasculares em mulheres tem sido superior ao encontrado no sexo masculino.
  • As mulheres representam 53,2% das mortes por este problema.

Todas as formas de DCV foram responsáveis, no sexo feminino, por quase o dobro dos óbitos causados por todas as formas de câncer combinadas.

As principais doenças cardiovasculares são:

  • I) Infarto, Angina e Derrame
  • II) Insuficiência Cardíaca
  • III) Arritmia
  • IV) Doença Vascular

Infarto, Angina e Derrame

A DAC (Doença Arterial Coronária) – infarto agudo do miocárdio e angina – e o AVC (derrame) têm se destacado como importantes causas de incapacitação e morte nos países desenvolvidos e estão se tornando quase epidêmicas, superadas apenas pelas doenças infecciosas nos países em desenvolvimento.

A DAC é responsável por cerca de 50% das mortes anuais de mulheres. Embora cerca de metade das mulheres que apresentam episódios agudos de doença cardíaca tenha dor torácica, um grande número delas tem sintomas menos óbvios, como dores nas costas, falta de ar, ou fadiga como sintoma inicial. Estes sintomas podem não ser valorizados por serem interpretados como secundários a outras doenças comuns, como artrites, gripe, indigestão, e mesmo como “normal para a idade”. A determinação correta da seriedade dos sintomas pelo profissional de saúde através de história clínica e exames complementares também costuma retardar o diagnóstico e o tratamento. Há uma tendência para descartar a possibilidade de doença cardíaca em mulher, principalmente em jovens, uma vez que o infarto ou a angina ocorrem muito mais tardiamente na mulher, além de ter menor incidência que no homem. Estes fatores tendem a minimizar o problema na mulher e retardam o início do tratamento adequado.

Estudos comparando os sintomas masculinos e femininos têm indicado diferenças interessantes: dor torácica, sudorese e falta de ar são comuns em ambos os sexos; mulheres tendem a experimentar mais falta de ar, fadiga, náuseas, dores nas costas, mandíbula e pescoço, enquanto o homem tende a manifestar mais sudorese.

Derrame é um termo popular que normalmente se refere ao Acidente Vascular Cerebral (ou AVC), que seria a denominação mais adequada. O AVC pode ser de dois tipos: isquêmico e hemorrágico. O AVC isquêmico ocorre pela obstrução de uma das artérias do cérebro, que provoca a morte das células daquela região cerebral que ficou sem o aporte sanguíneo adequado. Já o AVC hemorrágico ocorre por sangramento de uma das artérias do cérebro, causando mais ou menos os mesmos tipos de sintomas do AVC isquêmico.

Estar atento aos sinais do AVC é fundamental. Embora o AVC seja mais comum a partir dos 40 anos, ele pode ocorrer em qualquer idade. Os sintomas costumam ser de instalação súbita e dependem basicamente do local do cérebro que sofreu o dano.

Sinais e sintomas a seguir podem servir de alerta:

  • Perda súbita de força em um lado do corpo (braço e perna direita ou esquerda, por exemplo), ou perda de força em um braço ou uma perna isoladamente.
  • Perda súbita de força na face, o que pode causar desvio da boca para um lado (a boca fica torta de repente).
  • Perda repentina de sensibilidade em um lado do corpo, ou em um membro, ou na face.
  • Perda de visão súbita de um olho.
  • Perda de fala ou dificuldade repentina de falar. A pessoa pode parecer querer dizer alguma coisa e não conseguir. Ou pode acontecer de parecer não entender nada do que é dito.
  • Dor de cabeça súbita, forte, sem nenhuma causa aparente.
  • Dificuldade súbita para caminhar.

Sugere-se que a mulher na pré-menopausa esteja protegida da DCV, e que esta proteção seja exercida pelo estrogênio endógeno produzido principalmente pelos ovários. Portanto, parece que o estrogênio tem efeito protetor em relação ao vaso, efeito perdido na medida em que se inicia o climatério.

O climatério é um período de transição da fase reprodutiva da mulher (denominada menacme) para a fase não-reprodutiva (chamada senectude).

A menopausa é a última menstruação da mulher e ocorre entre 49 e 51 anos em cerca de 50% das mulheres. A menopausa é denominada precoce quando ocorre antes dos 40 anos e tardia após os 52 anos, sendo um marco importante no climatério, que costuma ser dividido em pré e pós-menopausa.

A diminuição do estrogênio que ocorre na fase pós-menopausa pode conduzir a alterações vasculares que levam à diminuição do fluxo sanguíneo tecidual, principalmente em conseqüência da redução do diâmetro dos vasos por processo orgânico (placa gordurosa) ou funcional (contração do vaso). Estas alterações podem ser causadas por influência indireta ou direta da ação estrogênica no vaso.

A terapia hormonal (TH) é uma alternativa que apresenta benefícios e riscos.

A indicação de reposição hormonal deve ser ponderada pelo ginecologista da mulher, avaliando-se os riscos e benefícios desta terapia.

Fatores de risco para doença cardiovascular na mulher

Os principais agressores ao coração da mulher são o colesterol, pressão arterial, dieta, sedentarismo, tabagismo, diabetes e história familiar. A mulher pode evitar todos esses agressores exceto a história familiar, diminuindo assim o risco do desenvolvimento de doença cardiovascular. Colesterol

O colesterol é um tipo de gordura necessária para o funcionamento adequado do organismo. Nosso organismo fabrica o colesterol, necessário para as células do corpo, cérebro, nervos, músculos, pele e todos os órgãos. Entretanto, o organismo necessita de uma pequena quantidade de colesterol para as diferentes atividades. Quando existe muito colesterol no corpo ele se acumula nas artérias formando placas, inclusive as artérias do coração (coronárias). Isto leva a um estreitamento das artérias, provocando na doença cardiovascular (infarto e AVC). Portanto, o colesterol elevado é um dos fatores de risco para a doença cardíaca. O valor desejado do colesterol varia, dependendo do número de fatores de risco que a pessoa tem. Mais que 50% das mulheres tem colesterol elevado.

Existem 3 tipos principais de colesterol: LDL, HDL e triglicérides.

LDL (Low Density Lipoprotein) – lipoproteína de baixa densidade é considerada o “colesterol ruim”. Este é o colesterol que se deposita e obstrui as artérias, atrapalhando o fluxo sanguíneo. O nível de LDL é um dos principais preditores de doença cardíaca. Para pessoas sem outros fatores de risco, o LDL deve ser menor que 160 mg/dl.

HDL (High Density Lipoprotein) – lipoproteína de alta densidade é considerada o “colesterol bom”. Este é o colesterol que ajuda a remover o excesso de colesterol do sangue, evitando que se deposite nas artérias. Seu nível ideal é acima de 45 mg/dl. Mulheres necessitam de níveis mais elevados de HDL que os homens para proteger seu coração.

Triglicérides – constituem uma das formas pelas quais o organismo armazena gordura. Estão freqüentemente elevados quando o colesterol está alto (LDL elevado e HDL baixo). Mulheres com idade acima dos 50 anos, com triglicérides elevados, sem outros fatores de risco, têm alta possibilidade de desenvolverem doença cardíaca. O valor desejado dos triglicérides é abaixo de 200 mg/dl.

Pressão Arterial

Em pessoas com pressão arterial elevada, o coração trabalha com maior esforço para bombear o sangue através do sistema circulatório. Ao longo do tempo isto leva a um aumento no tamanho do coração, acarretando a insuficiência cardíaca. Adicionalmente, a hipertensão arterial pode levar a um endurecimento das artérias no coração chamada de aterosclerose. Isto pode afetar também as artérias do cérebro, causando acidente vascular-cerebral, e os rins apresentam insuficiência.

A aferição da pressão arterial é a medida da pressão que o sangue exerce sobre a parede das artérias quando é bombeado pelo coração a todo o organismo. O valor da pressão arterial é dado em 2 números: um número maior é chamado de pressão sistólica, que mede a força da pressão do sangue nas artérias quando o coração se contrai. O número menor é chamado de pressão diastólica e mede a pressão exercida pelo sangue sobre a parede arterial entre uma contração cardíaca e outra (durante o relaxamento do coração). A pressão arterial é considerada normal quando a pressão sistólica é menor que 140 mmHg e a pressão diastólica menor que 90 mmHg. Em pacientes com diabetes e alteração da função renal a pressão diastólica deve ser menor que 80 mmHg.

Existem várias causas para a hipertensão arterial: algumas são o estreitamento de artérias e aumento no volume de sangue do corpo, ou coração batendo mais acelerado que o normal.

A pressão arterial – assim como a freqüência cardíaca – varia em diferentes indivíduos, por isto a forma de controle da pressão arterial é diferente em cada pessoa. Algumas requerem uma única medicação diária, outras precisam de 3 diferentes tipos de medicação, e há pessoas que controlam a pressão com dieta e exercícios físicos.

Dieta

O hábito alimentar pode contribuir para a obesidade, e pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares. A dieta rica em gordura, muito colesterol e poucas fibras contribui para elevar a possibilidade de doença cardíaca, além de tornar maior o risco de desenvolvimento de hipertensão arterial e diabetes. Em pessoas com sobrepeso o coração é forçado a um trabalho mais intenso. O excesso de peso geralmente leva a um aumento de LDL. A perda de peso leva a uma redução nos triglicérides e aumento no HDL colesterol.

Existem medidas para alterar sua dieta e reduzir o risco de doença cardíaca. A dieta deve ser pobre em gordura saturadas, gordura e colesterol.

As gorduras “ruins” ou saturada aumentam o colesterol ruim (LDL) e são encontradas em carnes vermelhas, aves e derivados do leite. Gorduras hidrogenadas, também prejudiciais, são encontradas em alguns cereais, cremes não derivados do leite e sorvetes. Nosso organismo necessita de uma quantidade mínima de gordura, que deve ser obtida com gorduras “boas” e pequenas quantidades de gorduras “ruins”, como encontradas em carnes vermelhas e aves.

As gorduras “boas” incluem: gordura poliinsaturada, monosaturada e ácido graxo ômega 3. Estas gorduras “boas” são encontradas em óleos de girassol, milho, amendoim, oliva e canola. São também encontradas em sementes de soja, peixes e nozes. Existem vários estudos que mostram redução no LDL colesterol, e conseqüentemente no risco cardiovascular, quando gorduras “boas” são substituídas por gorduras “ruins”. Um estudo mostrou redução de 30% das doenças cardíacas nas mulheres que ingeriam duas ou mais refeições de peixe a cada semana. Não existe, no entanto, qualquer estudo que mostre benefício com o uso suplementar de óleo de peixe. As refeições devem ser ricas em fibras, frutas e vegetais. Estudos têm demonstrado que o coração se beneficia com o uso de dietas adequadas e não de vitaminas e suplementos. Devemos tomar cuidado com dietas contendo pouca ou nenhuma gordura, que muitas vezes são ricas em calorias. Para uma adequada dieta devemos sempre ser orientados por um profissional da área de nutrição.

O uso abusivo de álcool também pode prejudicar o coração. Sabe-se que o uso de doses mínimas de álcool pode aumentar o HDL colesterol, mas não afeta o LDL colesterol e aumenta o triglicérides. Além disso, o uso de álcool em excesso pode lesar o fígado e a musculatura do coração e levar a aumento na pressão arterial. Por causa desses efeitos o álcool não deve ser usado como uma alternativa para prevenção de doenças cardiovasculares.

Sedentarismo

A falta de exercício físico é um importante fator de risco para doença cardiovascular. Exercício regular pode reduzir em cerca de 50% o risco de doença cardíaca. Segundo a American Heart Association, nos Estados Unidos cerca de 36,2% das mulheres brancas eram sedentárias, aumentando para 55,2% na raça negra, porcentagem superior à taxa masculina (32,5% e 44,1%, respectivamente).

O coração é composto, em sua maior parte, de músculo, e ao praticar atividade física não somente os músculos dos braços e pernas entram em forma, mas também a musculatura cardíaca. O exercício praticado rotineiramente pode reduzir o LDL colesterol, aumentar o HDL colesterol, e ajudar a regular o açúcar circulante e a reduzir a pressão arterial. Caminhada vigorosa é atualmente uma das melhores formas de exercício e pode ser feita em qualquer local, sem nenhum custo. Caminhadas com duração de 30 minutos por dia, pelo menos 3 vezes por semana, trazem benefício considerável. Antes de iniciar qualquer atividade física, uma visita ao médico deve ser realizada.

Tabagismo

A nicotina do cigarro aumenta a freqüência cardíaca e a pressão arterial. Isto faz o coração trabalhar mais que o normal, além de contrair as artérias e prejudicar o fluxo sanguíneo, o qual limita o fluxo de oxigênio para os tecidos, os órgãos e especialmente para o próprio coração. O tabagista está predisposto a ter uma doença cardíaca vários anos mais cedo do que os não-tabagistas. Cerca de metade dos problemas cardíacos na mulher de meia-idade tem por causa o cigarro. Os tabagistas devem, em primeiro lugar, ter motivação para a interrupção do vício em seu próprio benefício e no de seu coração. Podem, então, recorrer a algum auxílio para esse objetivo. Existem medicações adequadas e programas que estimulam a interrupção desse hábito e podem ajudar. Não há evidências de que apenas reduzir o cigarro ajude o coração. É necessário interromper completamente o vício.

Diabetes

Diabetes tipo 2 é um fator de risco para doença cardíaca maior em mulheres que em homens. Mulheres com diabetes têm risco duas vezes mais que homens sem diabetes de desenvolver doenças cardiovasculares. A mulher diabética deve procurar reduzir seu risco cardiovascular tratando adequadamente o diabetes, a pressão arterial, controlando o colesterol e perdendo peso.

História Familiar

É o único fator em que não se pode interferir para reduzir o risco cardiovascular, pois é uma predisposição genética ou hereditária. A chance de desenvolver uma doença cardiovascular aumenta quando um dos pais ou irmãos tenha desenvolvido essa doença antes dos 50 anos. É importante a história familiar, e informá-la ao médico permite melhor acompanhamento e maior valorização dos demais fatores de risco.

Outro fator de risco para eventos cardiovasculares (AVC, trombose venosa, embolismo pulmonar, infarto agudo do miocárdio e trombose venosa cerebral) é o uso de anticoncepcional hormonal. Dentre os métodos anticoncepcionais existentes, o anticoncepcional hormonal oral é um dos que mais se destacam pela sua ampla utilização em todo o mundo, consistindo na administração, por via oral, de progestógenos associados a estrógenos, visando a impedir a concepção com elevada eficácia. Portanto, mulheres com fatores de risco como diabetes, hipertensão, obesidade, sedentarismo, e com eventos cardiovasculares prévios devem procurar orientação médica especializada para o início do uso deste método anticoncepcional.

II. Insuficiência Cardíaca

Insuficiência cardíaca é uma condição na qual o coração não consegue bombear o sangue para os órgãos do corpo. Isto pode resultar de:

  • Estreitamento das artérias que levam sangue para o músculo cardíaco – DAC.
  • Após ataque cardíaco, ou infarto do miocárdio, com cicatrização do músculo, interferindo com no funcionamento normal da bomba cardíaca.
  • Pressão arterial elevada.
  • Doença valvar cardíaca, devido a doença reumática prévia ou outras causas.
  • Doença primária do músculo cardíaco, chamada de cardiomiopatia.
  • Defeitos cardíacos ao nascimento – doença cardíaca congênita.
  • Infecção das válvulas do coração e/ou da musculatura cardíaca – endocardite e/ou miocardite.

Com base em dados recentes, aos 40 anos de idade o risco de desenvolver insuficiência cardíaca ao longo da vida em homens e mulheres é de 1 para 5. Nessa faixa etária, o risco de desenvolver insuficiência cardíaca sem infarto do miocárdio prévio é de 1 para 9 em homens e de 1 para 6 em mulheres. Cerca de 75% dos casos de insuficiência cardíaca têm como antecedentes a pressão arterial elevada. Um estudo americano demonstrou que a incidência de insuficiência cardíaca não tem diminuído durante as duas últimas décadas, mas a sobrevida após o início tem melhorado substancialmente, com menor aumento entre mulheres e idosos.

Um outro estudo, que analisou mulheres com doença cardiovascular, mostrou que diabetes é o maior risco, principalmente se a mulher for obesa. Diabéticas com glicemia de jejum muito elevada (>300 mg/dl) apresentaram um risco três vezes maior de desenvolver insuficiência cardíaca, se comparadas a diabéticas com a glicemia de jejum controlada.

Estudos recentes demonstram que a prevalência da insuficiência cardíaca é maior no sexo masculino até os 75 anos de idade, e a partir desta idade temos um número equivalente de pacientes em ambos os sexos. Isto pode ser explicado pela maior sobrevida da mulher com insuficiência cardíaca quando comparada ao homem.

O número de internações de mulheres por insuficiência cardíaca vem aumentando ao longo do tempo, superando o número de internações do sexo masculino.

No paciente com insuficiência cardíaca o sangue sai do coração lentamente e retorna para o coração através das veias, causando congestão nos tecidos (edema) pela dificuldade do coração em bombear o sangue que retorna do corpo. O edema é mais freqüente nas pernas e coxas, mas pode ocorrer em diversas partes do corpo. Algumas vezes o sangue acumulado nos pulmões pode causar falta de ar, principalmente quando a pessoa permanece por muito tempo deitada.

A insuficiência cardíaca afeta também a capacidade do rim em eliminar água e sódio. Esta retenção de água intensifica o edema.

A insuficiência cardíaca é tratada com o uso de droga específicas, além de repouso, dieta apropriada (pobre em sal) e restrição das atividades diárias.

Quando uma causa específica para a insuficiência cardíaca é identificada, deve também ser tratada com controle da pressão arterial e cirurgias para troca de válvulas.

A reposição hormonal pode causar retenção de líquidos, tendo o mesmo efeito da ingestão exagerada de sal: piora a insuficiência cardíaca e deve ser evitada sempre possível.

III. Arritmias Cardíacas

As arritmias cardíacas são distúrbios do ritmo normal do coração, dentre as quais as mais comuns são as extra-sístoles e a fibrilação atrial (irregularidades dos batimentos cardíacos gerados nos átrios). Os outros tipos de arritmias podem ser agrupados em taquicardias (taxa de batimentos acima de 100 por minuto) e bradicardias (abaixo de 60 por minuto). Os sintomas mais freqüentes costumam ser palpitações rápidas e repetidas que assustam os pacientes, mas em geral não ameaçam a vida. Entretanto, mais raramente, arritmias cardíacas podem causar desmaios ou mesmo parada cardíaca.

A incidência das arritmias cardíacas difere entre homens e mulheres por causa dos efeitos hormonais sobre o funcionamento das células cardíacas e a atividade do sistema nervoso autonômico, que controla as reaçõe
s involuntárias do organismo.

Em geral, a gravidade de uma arritmia cardíaca é determinada pela presença de doença cardíaca, isto é, acometimento do músculo do coração.

Em mulheres é muito comum a associação de arritmias, sobretudo extra-sístoles, com prolapso da valva mitral. Este acometimento, muito valorizado no passado e hoje considerado quase “uma variante anatômica da normalidade”, é facilmente tratado e não deve preocupar seus portadores.

Desde 1920 observou-se que a freqüência cardíaca de repouso (taxa de batimentos cardíacos por minuto) da mulher é maior que a do homem. Esses achados podem explicar, em parte, as diferenças na tolerância física e no exercício. Também foram relatadas diferentes variações da freqüência cardíaca durante o ciclo menstrual, tendendo a menor freqüência durante a fase folicular ou lútea do ciclo.

Burke e colaboradores relataram diferentes variações da freqüência cardíaca durante o ciclo menstrual, tendendo a uma menor freqüência durante a fase folicular ou lútea do ciclo. Myerburg e colaboradores encontraram uma maior chance de induzir arritmias em mulheres no início do ciclo menstrual ou na fase pré-menstrual.

Algumas arritmias, como as supraventriculares, são mais comuns durante a gravidez e período pós-parto, tendo caráter benigno. Postula-se que o nível elevado de progesterona durante a gravidez associado a alterações na modulação do sistema nervoso (estresse físico e emocional) facilita o surgimento dessas arritmias.

Existem algumas diferenças no tratamento de arritmias em mulheres em relação ao homem. Está demonstrado que as mulheres têm menor tendência a se submeterem a implante de marca-passo ou cardioversor-desfibrilador implantável que o homem, mesmo que clinicamente indicado. Estas diferenças se devem ao menor tamanho do organismo feminino, diferenças na freqüência de doenças associadas, e a preferência das pacientes, tendendo a optar por terapias menos agressivas. Poucas mulheres foram incluídas nos grandes estudos que avaliam o tratamento adequado das arritmias ventriculares, provavelmente por dificuldade de recrutar pacientes do sexo feminino pela freqüência de doenças associadas e pela menor incidência de DAC como fator de risco para arritmias.

IV. Doença Valvar Cardíaca

Dentre as doenças valvares, predomina na mulher o Prolapso de Valva Mitral (PVM), que consiste principalmente em uma doença genética. Pode ocorrer também, em situações novas, secundariamente a outras doenças. A média desta doença é de 18% em mulheres e 12% em homens. Na maioria dos indivíduos é uma patologia benigna, causando poucos ou nenhum sintoma. Pessoas com anormalidades valvares mais significantes possuem maior risco de complicações como: endocardite (infecção na válvula), arritmias, e até morte súbita. O diagnóstico e uma completa avaliação são necessários para um tratamento adequado e orientação quanto à prática desportiva.

O prolapso de valva mitral pode vir acompanhado de sintomas que caracterizam a síndrome do prolapso valvar mitral. Estes sintomas ocorrem por alterações psicológicas e não estão relacionados diretamente ao problema valvar, como:

  • Dor torácica
  • Fadiga
  • Palpitações (falhas no coração)
  • Tontura
  • Respiração curta e rápida
  • Ansiedade e/ou ataque de pânico
  • Dor de cabeça
  • Baixa tolerância ao exercício
  • Oscilação do humor
  • Fatores que podem aumentar a intensidade ou freqüência dos sintomas:
  • Estresse emocional
  • Fadiga excessiva
  • Atividade física não-rotineira
  • Situações de ansiedade ou nervosismo
  • Cafeína
  • Medicações com estimulantes
  • Doces
  • Ambientes muito quentes ou muito frios
  • Desidratação
  • Gripe, resfriado ou outras doenças
  • Insônia
  • Álcool
  • Tabagismo
  • Menstruação
  • Menopausa

As pacientes com PVM assintomáticas e sem disfunção valvar devem ser acompanhadas clinicamente.

Pacientes sintomáticas e sem disfunção valvar devem receber apenas orientação e acompanhamento médico, e algumas vezes recebem medicação para diminuir a ansiedade.

Portadores de disfunção valvar pequena ou média devem ser orientados quanto ao uso preventivo de antibióticos para realização de procedimentos invasivos, como tratamento odontológico, controle adequado da pressão arterial e perda de peso, além da realização de ecocardiograma a cada 2 ou 3 anos.

Pacientes com disfunção valvar importante são considerados de maior risco, podendo inclusive necessitar de tratamento cirúrgico para troca da válvula.

Guia prático para verificar se você, do sexo feminino, tem risco de desenvolver doença cardiovascular

Os principais fatores de risco para doença cardiovascular em mulheres são:

  • Idade > 55 anos (pós-menopausa)
  • História familiar de doença cardiovascular
  • Tabagismo
  • Nível de colesterol > 240 mg/dl ou Pressão arterial > 140/90 mmHg
  • Sedentarismo
  • Sobrepeso (ver seu IMC no capítulo 5)
  • Diabetes mellitus

Procure orientação médica

Se você tem um ou mais destes fatores de risco para doença cardiovascular procure orientação do seu médico.

Alguns desses fatores você pode alterar mudando seus hábitos de vida, como parar de fumar, perder peso, reduzir o colesterol, praticar atividade esportiva diária (com orientação médica).

Sugestões para reduzir sua chance de desenvolver doença cardiovascular:

  • Reduza seu colesterol ruim (LDL), limitando a ingestão de gorduras saturadas para 10% do total diário de calorias ingeridas.
  • Inclua 25-30 gramas de fibras solúveis em sua dieta diária.
  • Perca peso. Redução de 5 a 10 pontos no IMC pode fazer diferença.
  • Coma uma laranja por dia. A ação antioxidante da vitamina C ajuda a manter ou elevar seu nível de colesterol bom (HDL).
  • Exercícios físicos ajudam a elevar o nível de HDL colesterol.
  • Pare de fumar para restaurar seu nível saudável de HDL colesterol.

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