A anatomia correta e o funcionamento perfeito do sistema reprodutor têm importância indiscutível na obtenção da gestação. Conhecer o seu estado normal facilita o entendimento das alterações que podem causar a infertilidade e que serão expostas nos próximos capítulos.
Anatomia normal do órgão reprodutor feminino
1. Útero
O útero é um órgão muscular em formato de uma pera virada de cabeça para baixo. Seu tamanho varia com a idade, número de filhos e eventuais alterações, como miomas. Tem, normalmente, de 7 a 8 cm de comprimento, 5 a 7 cm de largura superior e paredes de espessura entre 2 e 3 cm.
Pode ser dividido em duas partes:
Corpo – 2/3 superiores (parte expandida): o corpo uterino, além da musculatura, tem uma camada interna chamada endométrio. Esta é a camada que descama junto com o sangue na menstruação e volta a crescer, a partir do 1° dia do ciclo menstrual, chegando à sua espessura máxima (cerca de 10 mm) no período ovulatório (14° dia do ciclo). Se a mulher engravidar, o futuro bebê se alojará no meio desta película e lá permanecerá durante a gestação. Se, no entanto, não ocorrer a gravidez, como acontece na maioria dos ciclos, o endométrio sofrerá modificações produzidas pelo hormônio progesterona e descamará na próxima menstruação. Portanto, esta camada aumenta e diminui de espessura conforme a fase do ciclo menstrual.
Cérvix ou terço inferior do colo (parte cilíndrica abaixo do corpo do útero): o colo cérvix faz a conexão entre a vagina e o corpo uterino. O colo deve ter a anatomia perfeita, pois é por ele que os espermatozoides depositados na vagina durante o ato sexual passam. O colo cérvix produz um muco que aumenta na época da ovulação e é percebido como um corrimento de aparência de “clara de ovo”. Através deste muco, os espermatozoides “nadam” em direção ao interior do útero. No fundo do útero, encontram-se os dois cornos onde se implantam as duas tubas uterinas provenientes do ovário.
2. Tubas (trompas)
As tubas uterinas são pequenos “tubos” finos que transportam os óvulos provenientes do ovário e os espermatozoides vindos do útero, além do embrião formado pela união das células sexuais femininas e masculinas (óvulos + espermatozoides). Medem de 10 a 12 cm de comprimento e têm quatro porções: parte uterina, istmo, ampola e as fímbrias. As fímbrias captam os óvulos expelidos pelo ovário e direcionados para a região ampolar. A fertilização ocorre na ampola.
Após a fertilização, o embrião “caminha” em direção ao útero onde é implantado (nidado). Se houver alguma falha neste transporte, o embrião se desenvolverá no interior da tuba e ocorrerá a gravidez tubária, com consequências graves.
O óvulo pode ser fecundado em até 48 horas após a sua expulsão. Os espermatozoides duram de dois a três dias no interior do útero. O embrião demora de quatro a cinco dias para percorrer o trajeto no interior da tuba.
3. Vagina
A vagina liga o colo uterino ao exterior. Tem forma tubular e mede cerca de 7 a 8 cm. É o órgão que recebe o pênis e o sêmen no ato sexual. É também por onde sai o sangue da menstruação e o “canal de parto”. A vagina está situada entre o reto e a uretra.
Órgãos genitais externos femininos – (Figura 1.2)
- a) Monte púbis: proeminência adiposa coberta por pelos púbicos na puberdade.
- b) Lábios maiores: pregas da pele que protegem os óstios externos da uretra e vaginal. Entre eles, há uma fenda – rima da vagina.
- c) Lábios menores: pregas de pele lisa e sem pelos entre os lábios maiores. Entre esses lábios, encontra-se o vestíbulo da vagina.
- d) Clitóris: órgão erétil: situa-se na junção anterior dos lábios maiores. O clitóris aumenta sob estimulação tátil e é um órgão altamente sensível e importante na excitação sexual.
4. Ovários – (Figura 1.3)
Os ovários são as glândulas reprodutivas da mulher. Em forma de amêndoas, medem aproximadamente 3 x 2 cm e produzem os hormônios responsáveis pelo ciclo menstrual e pelas características sexuais secundárias da mulher (voz fina, presença de mamas, pelos pubianos, entre outras).
O óvulo: estrutura microscópica que cresce e amadurece dentro de folículos nos ovários. Durante o ciclo reprodutivo, estes folículos, vistos pelo ultrassom como “bolinhas pretas”, desenvolvem-se até momento da ovulação.
ANATOMIA ANORMAL DO ÓRGÃO REPRODUTOR FEMININO – (FIGURA 1.4)
Malformações uterinas são anomalias causadas pelo desenvolvimento anormal do útero. Atingem 4 em cada 1.000 mulheres e são a causa mais comum de problemas reprodutivos. Quanto mais cedo ocorrer a má formação durante o desenvolvimento do útero, maior será a lesão.
Entre as várias malformações uterinas, destacam-se:
- Útero com ausência de colo.
- Útero arqueado: apresenta depressão no fundo uterino.
- Útero bicorno: é dividido em dois cornos.
- Útero didelfo: é duplo, tem dois colos, é associado a duas vaginas e apresenta divisão do fundo uterino.
- Útero septado: é dividido por uma membrana (septo) em duas partes, podendo alcançar o orifício interno do colo do útero. Essa anomalia não é visível externamente.
- Útero subseptado: apresenta divisão incompleta do útero.
- Útero unicorno: tem cavidade reduzida que corresponde à metade de um útero normal. Só tem uma tuba e um ovário funcionando.
O crescimento do corpo e o desenvolvimento sexual podem ser anormais e os problemas clínicos podem surgir após a primeira menstruação da menina. Fluxos menstruais podem ser retidos em úteros com ausência do colo, causando dor abdominal baixa e cólicas a cada mês.
Algumas malformações podem causar abortos no 1° ao 3° trimestre, trabalho de parto prematuro, abortamento espontâneo e incompleto e hemorragias após o parto por contrações inadequadas do útero. Além disso, há queixas de infertilidade e endometriose.
Úteros septados causam maiores complicações obstétricas, seguidos pelos úteros bicornos. Úteros didelfos não apresentam, geralmente, problemas relacionados à reprodução.
Malformações uterinas são diagnosticadas por exames como ultrassom, histerossalpingografia, histeroscopia e ressonância magnética.
Anatomia normal do órgão reprodutor masculino
Os órgãos genitais masculinos podem ser divididos em internos e externos. Entre os primeiros, e muito próximos uns dos outros, estão os testículos, epidídimo, ductos deferentes, próstata, vesículas seminais e ducto ejaculatório. Os externos consistem em pênis e bolsa escrotal.
Todos esses órgãos estão relacionados à produção ou ao transporte dos gametas masculinos para meio externo, para que a fertilização seja possível. A anatomia do aparelho reprodutor masculino pode ser mais facilmente compreendida como uma sequência de órgãos onde, primeiramente, há a produção e depois a maturação dos espermatozoides.
1. Testículo: O testículo é um órgão recoberto por muitas membranas, no interior da bolsa escrotal. Dentro dele, há os túbulos seminíferos, que contêm células dormentes capazes de originar os espermatozoides. Este processo se inicia na puberdade, entre 13 e 16 anos, e continua até a velhice.
O espermatozoide (Figura 1.5):
o espermatozoide é uma estrutura microscópica que, basicamente, divide-se em três partes: cabeça, peça intermediaria e cauda. Esta última realiza movimentos que impulsionam o espermatozoide em direção ao óvulo.
2. Epidídimo: Os espermatozoides tornam-se funcionalmente maduros no epidídimo, órgão extremamente enovelado (parece um novelo de lã) localizado acima do testículo e que possui um ducto único para onde confluem os espermatozoides provindos dos testículos. No epidídimo, há também uma secreção mucosa que faz parte do líquido seminal. O ducto do epidídimo tem sua extremidade com maior calibre e continua com o ducto deferente (veja figura 1.6).
3. Ductos Deferentes, Vesícula Seminal e Ducto Ejaculatório: O ducto deferente dilata-se na sua extremidade mais distante, formando a ampola através da bexiga e no ápice da próstata. Nesta altura, há a junção do ducto deferente com o ducto da vesícula seminal, órgão situado abaixo da ampola do ducto deferente e que é responsável pela produção da maior parte do liquido seminal. A junção dos dois ductos origina o ducto ejaculatório que penetra a próstata.
Nos procedimentos de vasectomia, é realizada a secção do ducto deferente, impossibilitando a passagem dos espermatozoides produzidos nos testículos, mas a produção permanece a mesma .
4. Próstata: A próstata é um órgão músculo-fibroso que contém glândulas cuja secreção é responsável pelo odor característico do sêmen. A próstata é importante pela sua ação muscular de propiciar maior força para a ejaculação (liberação do líquido seminal). Além disso, ela envolve a parte prostática da uretra, canal para onde se destina o ducto ejaculatório.
O interesse clínico pela próstata reside, principalmente, no fato da mesma poder crescer após os 40 anos, pressionando a parte prostática da uretra e interferindo no fluxo da urina. Além disso, o câncer de próstata é um tumor comum em homens com mais de 55 anos.
A uretra, após atravessar a próstata, dirige-se para o pênis. Em seu interior pode haver urina ou liquido seminal (no qual já foi acrescentado um muco produzido pelas glândulas bulbouretrais, ao redor do esfíncter da uretra, logo após o fim da próstata).
5. Pênis: O pênis consiste de raiz e corpo, compostos por massas de tecido erétil. Na extremidade do corpo, encontra-se a glande, separada daquele pelo colo da glande. Nela, há glândulas prepuciais, que secretam o esmegma, uma secreção sebácea de odor característico. Cobrindo a glande, há uma camada de dupla pele, o prepúcio, e na ponta há o óstio externo da uretra, por onde sai a urina ou o sêmen.
6. Saco Escrotal ou bolsa escrotal: É uma bolsa de pele situada abaixo do pênis, dentro do qual se aloja o par de testículos, que são as gônadas masculinas. Os testículos permanecem a uma temperatura de 2 a 3ºC, inferior a temperatura corporal, o que é necessário para que os espermatozoides se desenvolvam normalmente.
Como a gravidez acontece?
Para que um casal engravide, é necessário que tanto o homem como a mulher tenham um organismo saudável e funcionando adequadamente. A mulher deve ovular e o caminho a ser percorrido pelo óvulo e pelos espermatozoides deve estar completamente livre. A gravidez pressupõe relações sexuais adequadas, que devem acontecer na época da ovulação, seguida da fecundação e a implantação dos embriões (nidação). Esses passos serão rapidamente explicados a segui:
1. Ciclo reprodutivo da mulher: Na primeira menstruação, uma adolescente tem cerca de 300 mil óvulos “estocados” nos ovários e que serão estimulados durante a toda a sua vida reprodutiva. A cada menstruação, ou melhor, a cada ciclo menstrual, 1.000 óvulos são estimulados pelos hormônios FSH e LH, mas somente um chega à ovulação. Portanto, 999 óvulos são perdidos e eliminados em cada ciclo. Ao atingir-se a menopausa, não haverá mais óvulos disponíveis.
2. Ovulação: No começo do ciclo menstrual, ou seja, no 1° dia da menstruação, um óvulo rudimentar, cujo desenvolvimento se completa em 14 dias, começa a se formar no ovário. Para isto, os sistemas nervosos e endócrinos devem estar em perfeito funcionamento. O sistema nervoso central, através do hipotálamo (região do cérebro intimamente ligada à hipófise), manda uma mensagem para que a glândula hipófise secrete dois hormônios (LH e FSH), os quais, agindo no ovário, estimulam o crescimento do folículo, que, por sua vez, fabrica hormônio feminino responsável pela preparação do endométrio e do muco cervical chamado estrogênio. Ao mesmo tempo, os óvulos, dentro de folículos, amadurecem e crescem até atingir o diâmetro de 18 mm, para então romper (ovulação). Em sincronia com o desenvolvimento folicular, o endométrio, no interior do útero, se prepara para receber o eventual embrião., aumentando a sua espessura e sua textura.
3. Fecundação: Se todas as condições estiverem favoráveis, a fecundação pode ocorrer ao redor do 14° dia do ciclo, O óvulo, já expulso do ovário e penetrando na trompa de Falópio (tubas), é fecundado. Os espermatozoides depositados na vagina sobem em direção à célula reprodutora feminina (óvulo). Para tanto, não devem ser impedidos de chegar ao colo do útero, nem à cavidade uterina, nem à tuba, onde efetivamente ocorrerá a fecundação. O caminho deve estar livre e necessariamente “revestido” pelo muco cervical fabricado dentro do canal cervical.
4. Implantação/Nidação: A implantação/nidação se dá quando o embrião se implanta na cavidade uterina. Isto ocorre de 5 a 6 dias após a fecundação, quando a célula única, resultado da união do espermatozoide e do óvulo e que dará origem à nova vida, encontra-se em estágio de blastocisto (embrião com mais de 64 células) e desce em direção ao útero. O endométrio deve estar receptivo para que este fenômeno ocorra. Se não há implantação, as modificações impostas pelo hormônio progesterona, fabricado pelo ovário pelo corpo lúteo (resto do folículo que fica no ovário) após a ovulação, determinam que este endométrio seja descamado no período da menstruação.
Palavra da enfermagem do IPGO
A assistência de Enfermagem a casais inférteis engloba, entre outras, a educação dos casais sobre anatomia e fisiologia reprodutiva, o que acontece no momento da orientação sobre os pedidos de exames solicitados pelo médico após a consulta. A explicação da anatomia do aparelho reprodutor feminino e masculino, em linguagem clara e objetiva, reforça a relevância da realização de exames como histerossalpingografia, espermograma e dosagens hormonais. Salientamos que as causas de infertilidade são múltiplas e podem ou não estar associadas a anomalias do sistema reprodutor masculino ou feminino. A investigação deve abranger simultaneamente os dois elementos do casal.
Este texto foi extraído do e-book “Manual Prático de Reprodução Assistida para a Enfermagem”.
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