O ginecologista e especialista em reprodução humana Arnaldo Schizzi Cambiaghi*, diretor do IPGO em São Paulo, responde a 16 perguntas essenciais para aqueles que estão pensando em fazer um tratamento de fertilização, mas continuam com algumas dúvidas. Especialmente as mulheres que passaram dos 46 anos. São questões muito comuns que podem surgir nas conversas da maioria dos casais. São elas:
1) Qual é a chance de uma mulher ou um homem terem filhos após os 46 anos?
R: São poucos os casos de gestação relatados nesta fase da vida. A chance é muito pequena e é considerada excepcional após esta idade.
2) Como deve proceder um casal cuja mulher está acima dos 46 anos?
R: O primeiro passo é procurar um especialista em Reprodução Humana para se conscientizarem das chances da gestação e dos riscos envolvidos numa gravidez nesta idade.
3) Qual a chance de uma gravidez espontânea ocorrer após essa idade?
R: Mínima. É muito comum pacientes contestarem essa possibilidade alegando que conhecem pessoas ou ouviram notícias de mulheres que engravidaram após essa idade. A chance é pequena, mas não é impossível. Porém, é fundamental que o casal tenha consciência das restrições nessa fase da vida, assim evitará ilusões que muitas vezes estão mais próximas de um milagre. Mas, repito, nada é impossível.
4) Quais são os riscos de uma gestação após essa idade?
R: Em primeiro lugar deve ser considerada a possibilidade de intercorrências clínicas de uma gestação nessa fase da vida, como: diabetes, hipertensão arterial, problemas de coluna etc. Depois, caso se consiga a gestação, com seus próprios óvulos (podem ser usados óvulos doados), sempre deverá ser avaliada a grande probabilidade de abortamento e malformações.
5) Caso uma mulher nessa fase da vida deseje ter filhos com seus próprios óvulos qual deverá ser o tratamento?
R: Após avaliação clínica e hormonal, o ideal é realizar a fertilização in vitro, que proporciona a maior chance de resultados positivos. Nesse tipo de procedimento os embriões provenientes da fertilização in vitro são avaliados e a qualidade dos óvulos também. As taxas de gravidez, nesses tratamentos e nessa idade, são muito baixas, mas não impossíveis. O casal deve ter consciência disso.
6) Qual deverá ser a melhor alternativa para um casal cuja mulher tem essa idade?
R: Do ponto de vista de resultados, a melhor alternativa é a doação de óvulos. O casal deverá conhecer bem esse processo. É importante que sejam previamente avaliados psicologicamente para saber se estão preparados para esse procedimento.
7) Mas, se o óvulo é de uma outra mulher (doadora), isso significa que os genes desta criança não são da mãe receptora (mulher vai gerar o bebê)?
R: Exatamente. Os cromossomos deste bebê serão metade do marido e da mulher receptora (que é a mulher que tem mais de 46 anos) e metade dos cromossomos da doadora. Mas existe a influência da epigenética da receptora que poderá ativar ou inativar alguns genes do bebê, mas o DNA é o da doadora.
8 ) A receptora pode conhecer a mulher doadora?
R: No Brasil a ovodoação é um tratamento considerado ético, mas na maioria das vezes a doadora não poderá ser conhecida pelo casal. A partir da nova resolução de maio/2021 o casal receber pode usar óvulos de doadores da família com parentesco de até 4º grau. É importante uma avaliação psicológica da doadora e do casal receptora sempre, especialmente nestes casos onde a doadora irá conviver com a criança.
9) Até que idade uma mulher pode ter filhos com óvulos doados?
R: Não existe uma lei que determine a idade máxima. Mas, existe um consenso que 55 anos deva ser uma idade máxima. Porém, o CFM (Conselho Federal de Medicina) elaborou algumas resoluções em 2013 e uma delas colocava como idade máxima das candidatas à gestação em reprodução assistida 50 anos. Porém, isso é uma norma e não uma lei. Algumas vezes ouvem-se notícias que mulheres entre 60 e 70 anos deram à luz. Este fato é tão raro que se torna notícia na mídia mundial.
10) Existe algum fundamento neste limite de idade?
R: Acredita-se que muitas mulheres após 55 anos terão problemas clínicos importantes durante a gestação (diabetes, hipertensão etc.) que podem colocar a própria vida da gestante em risco. Deve-se ponderar também o constrangimento da criança, quando chegar à adolescência e observar que sua mãe assemelha-se às avós de seus colegas. Uma vez que a ovodoação é um tratamento íntimo que normalmente é do conhecimento exclusivo do médico e do casal, acredita-se que esse tipo de mal-estar da criança deverá ser evitado. Não se deve esquecer que alunos do colegial (adolescência) já têm o conhecimento que na biologia da reprodução é impossível a gestação após os 60 anos.
11) As mulheres nesta idade têm sempre condições de ter uma gestação?
R: Nem sempre. Por isso, antes que se inicie o processo de fertilização in vitro deverão passar por uma avaliação ginecológica, clínica, cardiológica e fazer os seguintes exames: ultrassom, histeroscopia, papanicolau, mamografia, exames de sangue hormonais e de doenças infecciosas (HIV, Hepatite etc.) e, os maridos, fazerem espermograma, entre outros. Exames complementares para avaliação clínica como raio-X tórax, eletrocardiograma, exames de sangue em geral (glicemia, colesterol etc.), outros, se necessário e avaliação psicológica e emocional.
12) Como ocorre o processo de fertilização entre uma doadora e uma receptora?
R: A doadora deverá passar por um processo de indução da ovulação enquanto, paralelamente, a receptora recebe hormônios que preparam o endométrio para receber os embriões. Enquanto os óvulos se desenvolvem na doadora, o endométrio da receptora fica mais espesso a cada dia. Quando os óvulos da doadora forem aspirados, parte deles será encaminhada para a receptora sendo fertilizados com o sêmen do próprio marido ou sêmen de doador (se for o caso). A seguir os embriões são transferidos para receptora. Existe a doação exclusiva, onde a doadora por altruísmo doa todos os óvulos.
13) Quais são as regras para a ovodoação?
Basicamente são três: a doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial. Não se vende óvulos (nem espermatozoides); doadores não podem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, exceto no caso de doação entre parentes de até 4 º grau. Obrigatoriamente será mantido o sigilo e o anonimato. A legislação não permite doação entre familiares; as clínicas especializadas mantêm de forma permanente um registro dos doadores, dados clínicos de caráter geral com as características fenotípicas (semelhança física), exames laboratoriais que comprovem sua saúde física e uma amostra celular. A escolha de doadores baseia-se na semelhança física, imunológica e na máxima compatibilidade entre doador e receptor (tipo sanguíneo etc.).
14) Quem são as mulheres que podem doar óvulos?
R: As doadoras devem ter as seguintes características: menos do que 37 anos de idade;
bom nível intelectual; histórico negativo de doenças genéticas transmissíveis; teste negativo para doenças infecciosas sexualmente transmissíveis (hepatite, sífilis, Aids etc.) e tipagem sanguínea compatível com o casal receptor.
15) Qualquer mulher pode doar óvulos?
R: Pacientes com menos de 37 anos e que preencham os requisitos das questões 13 e 14. As principais fontes de doadoras são: mulheres férteis, que desejam submeter-se à ligadura tubária, poderão ser incentivadas a aceitar a estimulação ovariana e a doação dos óvulos. Pacientes do programa de “Fertilização in vitro” ou “Inseminação Artificial” com altas respostas ao estímulo ovariano, e que, às vezes, desejam de forma voluntária e anônima doar parte dos óvulos obtidos. São pacientes que não desejam congelar embriões nem óvulos e temem demais uma gestação múltipla.
Óvulos congelados provenientes de mulheres submetidas a tratamentos de fertilização in vitro que engravidaram e tiveram seu(s) filho(s). De alguma forma, o sucesso do tratamento já realizado indica uma boa qualidade desses óvulos. Estas pacientes, quando não desejam ter mais filhos, muitas vezes doam os óvulos excedentes. A chance de gravidez, nestes casos, está entre 50% a 55%. Vale ressaltar que a doação de óvulos é muito mais fácil de ser aceita pela paciente em relação à doação de embriões. Como a chance de gestação com óvulos congelados está cada vez mais próxima à de embriões congelados vale a pena o incentivo para o congelamento de óvulos para mulheres jovens que os produzem em grande quantidade.
Doação compartilhada. Nesse caso, a receptora pagaria parte dos custos da paciente, que tem indicação para bebê de proveta (doadora), mas não pode fazê-lo por motivos financeiros. Em troca a receptora recebe metade dos óvulos produzidos pela doadora. Dessa forma, estaremos ajudando duas mulheres e dando a elas o direito de serem mãe. Essa posição pode ser considerada eticamente controvertida, uma vez que a doadora está sendo beneficiada economicamente, embora não esteja recebendo dinheiro para isto.
Doação por generosidade pura: é muito raro. Algumas mulheres de maneira altruística ou já beneficiadas por tratamentos anteriores de fertilização in vitro, não desejando mais ter filhos e movidas por um sentimento de gratidão, se oferecem para doar seus óvulos sem qualquer benefício.
16) Existem outras razões para uma mulher receber óvulos de uma doadora?
R: Sim, como a ausência congênita ou retirada cirúrgica dos ovários; doenças genéticas transmissíveis da mulher; falhas repetidas de tratamentos de fertilização in vitro que aconteceram devido à má resposta ovariana ou a embriões de má qualidade e menopausa precoce ou induzida por QT.