Desde o passado mais distante, sempre coube à mulher a responsabilidade pela concepção. A ela caberia receber a semente do homem e procriar. Por isso, a pressão da sociedade é maior em relação à esposa do que em relação ao marido.
Quando o casal não conseguia ter filhos, a mulher era sempre responsabilizada pelo problema. A infertilidade era vista como um defeito biológico, que as levavam a alimentar o sentimento de inferioridade e de culpa, consideradas vítimas da repreensão divina, que determinava que elas não eram merecedoras da bênção da procriação. Assim, durante séculos, a infertilidade masculina não foi admitida. Hoje, sabemos que o homem é responsável por cerca de 30% a 40% dos casos em que o casal enfrenta problemas para engravidar. Em conjunto com algum fator feminino, mais 20%.
Dessa forma, no mínimo 50% dos casos de infertilidade contam com a participação masculina. Isso acontece porque, para que fertilize o óvulo, o espermatozoide precisa ter uma série de propriedades: formato oval, movimentos direcionados, reconhecer e aderir ao óvulo e , posteriormente, penetrar no seu interior para fertilizá-lo. Então, o potencial de fertilização masculino depende da integração de todas estas propriedades, que contribuem para sua competência. Além disso, ao entrar pelo útero e tubas (trompas), o espermatozoide sofre uma série de modificações capazes de torná-lo apto para fertilizar o óvulo. Essas mudanças recebem o nome de capacitação espermática e sem ela, a fecundação não seria possível. As causas de infertilidade masculina podem ser classificadas em pré-testiculares, testiculares e pós-testiculares.
As pré-testiculares são as alterações que ocorrem no sistema hormonal levando o homem a não produzir espermatozoides adequados. As testiculares são doenças do testículo propriamente dito. E as pós-testiculares abrangem problemas do sistema de ductos que transportam os gametas masculinos para o exterior. Os homens podem apresentar ausência de espermatozoides no ejaculado, mesmo quando o testículo é capaz de produzi-los. É a azoospermia excretora. Neste grupo de pacientes, as enfermidades mais comuns são as malformações congênitas, infecções, traumatismos e a vasectomia, que interrompe o trajeto dos espermatozoides. Já a azoospermia secretora é quando os testículos não produzem espermatozoides. Alguns exemplos do problema são as doenças congênitas, infecção dos testículos, caxumba, uso de medicamentos para o tratamento de câncer, entre outros. Há também a oligoastenospermia, que é a baixa quantidade de espermatozoides, que também podem ser causadas por anomalias congênitas.
O homem também pode sofrer com a diminuição do número de motilidade dos espermatozoides, ou oligoastenospermia. Ela pode ser causada por distúrbios hormonais, alterações testiculares (como a varicocele), alterações inflamatórias e alterações gerais, que são aquelas relacionadas aos aspectos profissionais, psíquicos, infecções em geral, medicamentos, tabagismo, alcoolismo, stress e outros fatores. Os espermatozoides capazes de fertilização devem ter o formato perfeito. Qualquer alteração em sua morfologia é chamada de teratozoospermia. Os principais responsáveis por este problema são as inflamações, algumas drogas, origem congênita e, novamente, a varicocele. A varicocele é uma dilatação anormal das veias, semelhante a varizes, que drenam o sangue dos testículos. É classificada em quatro graus, desde os casos mais simples até os mais avançados. “A associação entre varicocele e anormalidade no tamanho do testículo é conhecida há séculos. É muito comum e pode ser considerada uma causa de infertilidade masculina corrigível”, esclarece Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em Infertilidade da Clínica de Reprodução Humana do IPGO – Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia. O médico conta que, estudo em um grupo de pacientes após a cirurgia da doença, concluíram que se pode melhorar a qualidade seminal em alguns homens (verificada pela concentração espermática, morfologia e motilidade dos espermatozoides), podendo, algumas vezes aumentar a taxa de gravidez após a intervenção cirúrgica. Porém, a indicação da cirurgia para melhora da função reprodutiva deve ser cuidadosamente analisada. “O paciente deve estar ciente dos possíveis resultados insatisfatórios após a intervenção”, alerta Dr. Cambiaghi.
A infecção genital também pode ser um fator importante de infertilidade masculina. Os Micróbios mais frequentes que podem comprometer a fertilidade do homem e consequentemente também a da mulher são:
Gardnerella vaginalis. É a principal bactéria causadora da Vaginose Bacteriana, que também pode ser causada por outras bactérias como Peptoestreptococcus e Ureaplasma urealyticum E PODE SER TRANSMITIDA PELO HOMEM. Não é considerada uma doença sexualmente transmissível, uma vez que algumas dessas bactérias podem ser encontradas habitualmente no ser humano. No entanto, a transmissão ocorre também pelo contato íntimo ou relação sexual. A Vaginose é a causa mais comum do corrimento genital e a segunda causa de candidíase. Essa infecção desencadeia um desequilíbrio da flora vaginal fazendo com que a concentração de bactérias aumente devido a uma proliferação maciça de uma flora mista. Essa infecção pode prejudicar a saúde da muher, sua fertilidade e a própria gravidez e, portanto, deve ser tratada com antibióticos.
O Ureaplasma urealyticum é uma bactéria que pertence à família dos micoplasmas. Pode ser detectado no trato reprodutivo de um máximo de 40% dos indivíduos (homens e mulheres). O Ureaplasma provavelmente não impede a concepção normal na maioria dos casos, porque a cavidade uterina permanece estéril, mesmo em mulheres que possuem exames com o diagnóstico positivo para esta bactéria na mucosa vaginal. Embora a infecção por Ureaplasma raramente produza sintomas na mulher, no homem pode causar prostatite ou epididimite. O Ureaplasma pode ser transmitido a partir de um parceiro para o outro através de relações sexuais. Assim, as secreções do sistema reprodutor de ambos os parceiros devem ser avaliadas (esperma e muco cervical) individualmente. Quando Ureaplasma é detectado nas secreções reprodutivos de um dos parceiros, os dois devem ser tratados concomitantemente com o antibióticos apropriados.
Clamidia: A clamídia é uma infecção genital, causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, ou simplesmente clamídia. É uma infecção que afeta tanto homens quanto mulheres, e que também pode atingir os olhos. Se não for tratada, pode ter consequências negativas para a saúde sexual e reprodutiva. A clamídia é frequentemente assintomática, especialmente para mulheres. Isto quer dizer que 70% das mulheres e 50% dos homens não sentem absolutamente nada de diferente, mesmo estando infectados pela clamídia. Mesmo quando há sintomas, é fácil confundi-los com os de outras doenças, como a candidíase ou a cistite. Quando a clamídia provoca sintomas, eles normalmente aparecem de uma a três semanas depois da contaminação. Eles podem perdurar por algum tempo ou ir embora em poucos dias.
É importante tratar a clamídia, se a paciente estiver tentando engravidar, para evitar que haja danos ao aparelho reprodutivo. Se a futura gestante já tiver consequências mais graves como a doença inflamatória pélvica, terá de ser tratada também para aumentar suas chances.
A clamídia é uma das causas da infertilidade masculina e feminina. Nos homens, a bactéria pode causar inflamações nos epidídimos (epididimite) e nos testículos (orquite), capazes de promover obstruções que impedem a passagem dos espermatozoides. Nas mulheres, o risco é a bactéria atravessar o colo uterino, atingir as trompas provocar a doença inflamatória pélvica (DIP). Esse processo infeccioso pode ser responsável pela obstrução das trompas e impedir o encontro do óvulo com o espermatozoide, ou então dar origem à gravidez tubária (ectópica), se o ovo fecundado não conseguir alcançar o útero. Mulher infectada pela Chlamyda trachomatis durante a gestação está mais sujeita a partos prematuros e a abortos. Nos casos de transmissão vertical na hora do parto, o recém-nascido corre o risco de desenvolver um tipo de conjuntivite (oftalmia neonatal) e pneumonia. Uma vez instalada a infecção, o tratamento consiste no uso de antibióticos específicos.
A Gonorreia é uma infecção causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, transmitida por via sexual, altamente contagiosa. Geralmente afeta o colo do útero, mas pode estar presente na uretra, no reto ou na garganta. Pode ser assintomática ou provocar corrimento vaginal, dores e mal-estar urinário. A gonorreia também é uma das maiores causas de inflamação pélvica, que danifica as trompas de Falópio, levando à infertilidade e aumento da incidência da gravidez ectópica.
Normalmente o diagnóstico é realizado através de exames laboratoriais. No entanto, a ultrassonografia da próstata transretal ou pélvica, pode ser um auxílio para diagnosticar inflamação crônica da próstata e vesículas seminais.
A infecção genital também pode ser um fator importante de infertilidade masculina. As bactérias Escherichia coli e os micoplasmas, são as mais freqüentes e podem comprometer, a fertilidade do homem. Normalmente o diagnóstico é realizado através de exames laboratoriais. No entanto, a ultrassonografia da próstata transretal ou pélvica, pode ser um auxílio para diagnosticar inflamação crônica da próstata e vesículas seminais. A pesquisa da fertilidade masculina deve ser realizada em todos os casais, pois é muito mais simples do que a feminina. A avaliação da fertilidade do homem é baseada na história clínica, como os antecedentes de infecção, traumas, impotência, tabagismo, entre outros; além do exame físico, espermograma e, em casos especiais, exames genéticos. “Geralmente, para a conclusão do diagnóstico através do espermograma, é necessário que este exame seja repetido por três vezes”, esclarece Cambiaghi. Segundo o especialista, o homem deve ser tratado sempre que possível. “Porém, é necessário saber o que é relevante nesta pesquisa, para que ninguém se perca em resultados superficiais que levam o casal, muitas vezes, a perder tempo e dinheiro, além de sofrer o desgaste psicológico presente neste tipo de tratamento”, finaliza o médico.
Estudos recentes confirmam a importância do teste de fragmentação do DNA na avaliação do casal infértil
Embora um espermograma completo possa demonstrar normalidade na concentração, mobilidade e na morfologia de Kruger dos espermatozoides, e este seja um exame fundamental que pode nortear os tratamentos de infertilidade, em muitos casos, os resultados obtidos, mesmo que normais, podem ser insuficientes para concluir a saúde reprodutiva total do homem.A pesquisa da fragmentação do DNA do espermatozoide complementa os exames avançados, e quando seu resultado estiver alterado, poderá ser responsável pela dificuldade de engravidar, pelos insucessos dos tratamentos de fertilização in vitro e causa de abortos.Quando as taxas de fragmentação forem superiores a 30% , a chance de sucesso de gestação natural e dos tratamentos de Fertilização Assistida, será menor. Em 2006, já havia sido publicada uma revisão de literatura que concluía que a fragmentação de DNA aumentada no sêmen está relacionada a uma menor taxa de gravidez espontânea, por inseminação ou fertilização in vitro (EVENSON & WIXON, 2006).Em fevereiro de 2011, uma nova revisão foi publicada mostrando as mesmas conclusões, além da associação da fragmentação alterada a abortos de repetição (ZINI, 2011). Mais recente, em março de 2011, foi publicado um novo estudo realizado nos EUA, que analisou 233 casais submetidos à fertilização ou inseminação, avaliando a fragmentação do DNA das amostras de sêmen. Concluíram que pacientes com fragmentação aumentada tiveram mais abortos (KENNEDY et al, 2011).As causas mais comuns desta alteração são o estresse oxidativo, dieta inadequada, poluição, fumo, idade avançada, drogas e outras ainda em estudo. A erradicação destas causas pode melhorar este problema, mas, se isto não for suficiente, o tratamento com medicamentos antioxidantes pode ajudar a reverter o processo. Em alguns casos podem ser prescritos antibióticos e, em situações extremas, poderá ser necessária a punção dos espermatozoides, diretamente do testículo.O IPGO já vem adotando a pesquisa de fragmentação de DNA como rotina na investigação do casal infértil ou com abortos de repetição.REFERÊNCIAS:Evenson D, Wixon R. 2006. Meta-analysis of sperm DNA fragmentation using the sperm chromatin structure assay. Reprod Biomed Online. Apr;12(4):466-72.Kennedy C, Ahlering P, Rodriguez H, Levy S, Sutovsky P. 2011. Sperm chromatin structure correlates with spontaneous abortion and multiple pregnancy rates in assisted reproduction. Reprod Biomed Online. Mar;22(3):272-6.Zini A. 2011. Are sperm chromatin and DNA defects relevant in the clinic? Syst Biol Reprod Med. Feb;57(1-2):78-85.