As Inflamações Crônicas Subclínicas, que aqui chamamos de “Inflamações Silenciosas” por serem imperceptíveis e não causarem sintomas, podem interferir na fertilidade, dificultando o sucesso da gravidez espontânea, e também nos tratamentos de fertilização (falhas de implantação).
A inflamação é um mecanismo de defesa natural do corpo. Faz parte do sistema imunológico e pode ser desencadeada por muitos fatores. É um processo complexo pelo qual os glóbulos brancos do corpo são liberados no sangue ou tecidos afetados para combater a infecção. A inflamação é a maneira de o corpo marcar uma região para receber atenção do sistema imunológico.
Óvulos e espermatozoides saudáveis e hormônios equilibrados são necessários para uma gravidez bem-sucedida, mas igualmente importante é a condição e a receptividade do útero. Um óvulo fertilizado deve inserir-se na parede do útero para implantação, mas a inflamação uterina crônica é uma causa conhecida de falha na implantação e perda gestacional precoce.
Essas inflamações são causadas por razões variadas: estresse físico, emocional e mental; dieta inadequada; toxinas ambientais; problemas simples de saúde, como alergias e obesidade; problemas ginecológicos, como ovários policísticos, endometriose, falência ovariana ou simples processos naturais, como a própria ovulação ou mudança cíclica do ovário.
Exames específicos para identificação precoce da Inflamação Crônica Subclínica são as citocinas: Interleucina 10 (IL-10); Interleucina 6 (IL-6); Lipoproteína A; Óxido Nítrico; Fator de Necrose Tumoral (TNF alfa) e a Fosfolipase A2 (PLAC2).
O tratamento baseia-se em dieta apropriada que deverá ser indicada por nutricionista ou nutrólogo, suplementos vitamínicos manipulados de forma individualizada que minimizem o processo inflamatório, além da redução do estresse e atividades físicas regulares.
Condições reprodutivas associadas à Inflamação Crônica incluem: Endometriose; Síndrome do Ovário Policístico (SOP); Doença Inflamatória Pélvica; Miomas Uterinos e Cistos Ovarianos; Adenomiose e Síndrome de Asherman; Menopausa Precoce (insuficiência ovariana prematura); má qualidade de espermatozoides; má qualidade dos óvulos.
Intolerância ao glúten
A intolerância ao glúten, chamada doença celíaca, é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por intolerância ao glúten contido no trigo e em cereais afins. O glúten representa 80% das proteínas do trigo e é composto pela mistura de gliadina e glutenina. A doença celíaca é causada por uma resposta imunológica do organismo, mas, apesar de ser frequentemente chamada de alergia ao glúten, não é um processo alérgico e, sim, autoimune, que compromete a mucosa intestinal dificultando a absorção de nutrientes.
Os sintomas característicos são diarreia, vômito, perda de peso, dor abdominal, aumento de gases, “estufamento” e perda de apetite. Entretanto, nem sempre apresenta este quadro clínico tão bem definido. Muitas vezes, o único sinal da doença, que é muitas vezes negligenciado, é a presença de abortos repetidos e infertilidade, uma vez que muitas pesquisas apontam uma ligação entre sensibilidade ao glúten e desordens reprodutivas na mulher. Os mecanismos não são totalmente claros, mas o que se sabe hoje é que a doença celíaca provoca má absorção de nutrientes importantes para o sistema reprodutor, como ferro, ácido fólico, vitamina K, B12, B6 e outras vitaminas lipossolúveis, que poderiam ser também responsáveis até por malformações congênitas.
Além do risco de infertilidade, tem sido demonstrado que, em mulheres com doença celíaca não tratada, a taxa de aborto espontâneo é maior que a encontrada na população geral. Nestes casos, o risco relativo de aborto múltiplo e recém-nascidos de baixo peso é 8-9 vezes maior do que o da população geral.
Para diagnóstico, alguns exames podem ser realizados:
Anticorpos a serem pesquisados
- anti-TTG (Anticorpo antitransglutaminase)
- anti-EMA (Anticorpo antiendomísio)
- Anticorpo antigliadina
- IgA (se estiver baixo poderá confundir um falso negativo).
Teste genético
HlA-DQ2 e/ou DQ8. A grande maioria dos pacientes celíacos e 30% da população geral apresentam HLA-DQ2 e/ou DQ8. Assim, a presença de um desses dois alelos tem boa sensibilidade, mas baixa especificidade.
Tratamento
O tratamento baseia-se exclusivamente na dieta alimentar. Deve-se excluir do cardápio produtos industrializados com a presença de glúten, como pães, bolos, bolachas, macarrão, coxinhas, quibes, pizzas, cervejas, uísque, vodca etc., quando estes alimentos possuírem o glúten em sua composição ou processo de fabricação. Um desafio para aqueles que adoram este tipo de comida! Devido a exclusão total de alguns alimentos ricos em carboidratos e fibras, esta dieta é composta, em sua maior parte, de gorduras (margarina, manteigas, óleos etc.) e proteínas (carne em geral) e, em menor parte, de carboidratos (massas sem glúten, açúcares, etc.). Todo celíaco que não transgride a doença tende a ter um aumento do peso corporal e, desta forma, deve ter uma dieta equilibrada. Para tanto, deve diminuir a ingestão de proteínas, moderar o consumo de gorduras, e aumentar o consumo de frutas, sucos naturais, verduras e legumes, tornando a alimentação mais adequada e saudável. O malte, muito questionado, é um produto da fermentação da cevada, portanto, apresenta também uma fração de glúten. Os produtos que contenham malte, xarope de malte ou extrato de malte não devem ser consumidos pelos celíacos. O glúten não desaparece quando os alimentos são assados ou cozidos e, por isto, a dieta deve ser seguida à risca.