O microbioma humano é o conjunto de microorganismos que habitam nosso corpo com funções cruciais para a fisiologia e para a saúde. Este conceito de microbioma vem sendo consolidado apenas recentemente. Até então o termo “microbiota” era mais comumente utilizado para descrever determinadas comunidades microbianas em um ambiente ou hospedeiro. A palavra microbioma hoje é mais abrangente e retribui a importância que estes microorganismos desempenham com a produção de metabólitos e ácidos nucléicos essenciais para a saúde.
O equilíbrio da comunidade microbiana é vital para nossa saúde, para defesa contra patógenos e para o processo reprodutivo. Acreditava-se que a cavidade endometrial era um ambiente estéril, até que em 1985 surgiu a primeira evidência de colonização endometrial em mulheres saudáveis. As espécies mais prevalentes são os Lactobacilos iners, crispatus e a Prevotela. Hoje se sabe que a microbiota endometrial representa cerca de 9% de toda microbiota presente nas mulheres e exerce um papel essencial para:
- Manter o ph endometrial adequado
- Produção contra microorganismos invasores
- Modulação da resposta imune
- Promoção de um ambiente pró-inflamatório
- Implantação embrionária
- Placentação adequada
- Gestação saudável
O conhecimento da composição endometrial auxilia na restauração do equilíbrio da microbiota voltado para a melhora dos resultados reprodutivos.
Aqui o maior foco é no microbioma endometrial, mas não há dúvidas de que nosso organismo não pode ser segmentado e microbiomas intestinal, vaginal, etc., devem estar em harmonia para que todo o restante possa funcionar de forma adequada.
O microbioma vaginal já foi bem descrito e a disbiose é caracterizada pela perda da população de Lactobacilos.
Estudos recentes demonstraram associações entre alterações no microbioma e perdas gestacionais, infertilidade, partos prematuros e falhas de implantação.
Fatores muito precoces podem interferir na composição do microbioma de um indivíduo, por exemplo: a via de parto vai definir o conjunto de bactérias que irão colonizar o bebê; o uso de antibióticos precocemente interfere na composição da microbiota intestinal, sendo fator de risco para obesidade. Idade, fatores hormonais, cirurgias, hábitos de vida, uso de DIU e as fases do ciclo menstrual interferem na composição do microbioma.
O Projeto Microbioma Humano foi um dos maiores estudos dedicados a mapear os microorganismos em diferentes locais do corpo (vias aéreas, cavidade oral, pelo trato intestinal, trato urogenital, etc.) em 300 voluntários saudáveis do EUA, que representam uma população heterogênea em termos de etnia e de outras características demográficas.
Com o avanço das tecnologias de sequenciamento genético foi possível estabelecer cada vez mais a composição do microbioma e entender o papel destes microorganismos na saúde.
Ainda há muito a ser pesquisado, como por exemplo, definir o que seria o diferencial entre o normal e o patológico, como tratar, por quanto tempo, efeito cascata do uso de pro bióticos, antibióticos, etc.
Outra questão se refere sobre como coletar a amostra endometrial para evitar contaminações vaginais ou externas. Há estudos com amostras de biópsias provenientes de histeroscopia, cesarianas ou através de cateter.
O IPGO acredita que as evoluções na área do sequenciamento genético nos trazem informações preciosas para melhorar as taxas de sucesso dos tratamentos de reprodução assistida. Em parceria com o laboratório BIOMA temos disponível a pesquisa do microbioma endometrial e vaginal, e partir dos resultados poderemos fornecer mudanças alimentares e suplementação com prebióticos e probióticos pensando em toda influência do meio nas diversas etapas do desenvolvimento fetal.
Além disso, essa pesquisa poderá trazer mais dados para trabalhos futuros que poderão nos ajudar a compreender melhor a variabilidade dos microbiomas e seu papel nos distúrbios clínicos.
Escrito e revisado por Dra. Paula Araujo – Médica especialista em Reprodução Assistida do IPGO