Aqui no Brasil, livro lançado em 2012, “Fertilidade e Alimentação”, dá dicas para quem quer ter sucesso na gravidez também por meio do que come
Estudo apresentado dia 06 de maio deste ano, durante o 61º Encontro Clínico Anual do Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas, mostrou que mulheres que reduziram a ingestão de carboidratos e aumentaram a ingestão de proteína, durante tratamento de fertilização in vitro, aumentaram significativamente a chance de concepção e nascimento de uma menina.
O pesquisador Jeffrey Russell, do Instituto de Medicina Reprodutiva Delaware em Newark foi quem apresentou os resultados. Segundo ele, dietas de carboidratos-carregados criam um ambiente oócito hostil mesmo antes da concepção ou implantação.
Ele comentou que óvulos e embriões não estarão bem em um ambiente de alta glicose. Ao reduzir carboidratos e aumentar proteínas, a mulher estaria banhando seu óvulo de forma saudável, com suplementos nutritivos.
O estudo surgiu após o médico perceber a má qualidade dos embriões de mulheres jovens e saudáveis que conheceu por meio de seu programa de fertilização in vitro. Ele admitiu que não sabia descobrir o porquê, já que elas não estavam acima do peso nem eram diabéticas.
O estudo contou 120 mulheres com 36 e 37 anos de idade e que completaram um registro alimentar de três dias. Para algumas, a dieta diária foi de 60% a 70% de hidratos de carbono. Elas comeram mingau de aveia no café da manhã, um pão no almoço e macarrão para o jantar, e nenhuma proteína.
As pacientes foram classificadas em dois grupos: aquelas cuja dieta média foi mais do que 25% de proteína e aquelas cuja dieta média era inferior a 25% de proteína. Não houve diferença no índice de massa corporal médio entre os dois grupos.
Houve diferenças significativas em resposta à fertilização in vitro entre os dois grupos. O desenvolvimento de blastocisto foi maior no grupo de alta proteína do que no grupo de baixa proteína (64% vs 33,8%), assim como as taxas de gravidez clínica (66,6% vs 31,9%) e taxas de nascidos vivos (58,3% vs 11,3%).
Quando a ingestão de proteína era superior a 25% da dieta e a de hidratos de carbono inferior a 40%, a taxa de gravidez clínica subia para 80%. Dr. Russell agora aconselha todas pacientes de fertilização in vitro para reduzir a ingestão de carboidratos e aumentar a ingestão de proteínas.
O médico, porém, frisou que não há restrição calórica e que este não é um programa de perda de peso, é um programa nutricional, enfatizando que não é sobre perder peso para engravidar, mas sobre alimentação saudável para engravidar.
Já outro estudo, apresentado durante encontro de 2012 na Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), mostrou que pacientes de fertilização in vitro que mudaram para uma dieta de alta proteína e baixo carboidrato e depois passaram por outro ciclo, tiveram aumentadas suas taxas de formação de blastocisto de 19% para 45% e sua taxa de gravidez clínica de 17% para 83%.
Mesmo pacientes não-FIV com síndrome do ovário policístico têm melhorado as taxas de gravidez depois de fazer esta mudança de estilo de vida, observaram os pesquisadores.
Drª Amanda Alvarez, ginecologista que faz parte da equipe da área de Reprodução Humana do IPGO e que esteve presente no 61º Encontro Clínico Anual do Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas comenta: “Os médicos concordaram que estudos como esses demonstram quão pouco se sabe sobre o efeito de micronutrientes nas dietas sobre diversos aspectos da reprodução. Eles afirmam que os resultados mostram um campo aberto para pesquisas futuras e criam perguntas como se, por exemplo, é o carboidrato em geral ou os efeitos inflamatórios de glúten em carboidratos em grão que são prejudiciais para os resultados de fertilização in vitro”.
Primeira Obra Nacional
Como mostra o estudo acima, a alimentação, aquilo que comemos todos os dias, pode ser um detalhe que, a princípio, tem pouca importância, mas pode estar diretamente relacionada ao sucesso de uma gestação.
“Fertilidade e Alimentação” (2012) pode ser considerado o primeiro livro brasileiro que trata deste tema e foi escrito com rigor científico e base na experiência clínica do Centro de Reprodução Humana do IPGO. Escrita por Dr. Arnaldo Cambiaghi, com a colaboração da nutricionista Débora de Sousa Rosa, a obra demonstra a influência dos alimentos não só na fertilidade, propriamente dita, mas também em sua ausência, além de doenças.
Por exemplo, nos capítulos são abordados temas como: a dieta mediterrânea; padrão alimentar ideal; alimentos que devem ser priorizados e evitados e comendo fora de casa, por exemplo. Além de dicas de alimentação durante a gravidez.
Também são demonstrados os exames fundamentais para se avaliar a fertilidade, assim como os principais tratamentos e orientações de como preservá-la e se preparar para uma gravidez sadia, além de receitas e dicas com os alimentos mais indicados. “Livros com temas similares geralmente são traduções que nem sempre se adaptam ao cardápio da nossa cultura, tão rica graças à miscigenação de vários povos”, afirma Arnaldo Cambiaghi.
“E não é só isso. Mulheres que sofrem com algumas doenças também podem melhorar ou agravar a situação, dependendo do que colocarem em seus pratos”, alerta Drª Amanda Alvarez.
Aquelas com endometriose encontram no livro dicas com uma terapia nutricional e conhecem substâncias que estão presentes em alimentos que podem até agravar a dor que sentem. Já quem tem a SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos) também se informam sobre os aspectos nutricionais e conhecem quais alimentos não podem faltar em suas dietas.
“Outro assunto delicado é o abortamento. Em um dos capítulos do livro o tema é colocado em destaque e questões como obesidade e baixo peso são levantados. Além disso, um texto já apontava como a deficiência de micronutrientes está associada a resultados gestacionais negativos e como compensar esta falha”, encerra Cambiaghi.