Muita gente está cortando de seus cardápios o consumo de glúten e lactose, seja para perder peso ou para ser mais saudável. Esse procedimento tem dividido a opinião de profissionais. Porém, algo que está se confirmando, graças a estudos, é que quem quer engravidar deve diminuir o consumo de carboidratos.
Estudo apresentado no Encontro Clínico Anual do Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas de 2013, mostrou que mulheres que reduziram a ingestão de carboidratos e aumentaram o consumo de proteína, durante tratamento de fertilização in vitro, aumentaram significativamente as chances de concepção e nascimento.
O pesquisador Jeffrey Russell, do Instituto de Medicina Reprodutiva Delaware em Newark, foi quem apresentou os resultados. Segundo ele, dietas de carboidratos-carregados criam um ambiente oócito hostil mesmo antes da concepção ou implantação. “Os óvulos e embriões não estarão bem em um ambiente de alta glicose. Ao reduzir carboidratos e aumentar proteínas, você está banhando o seu óvulo de forma saudável, com suplementos nutritivos”, disse ele.
Segundo o pesquisador, o estudo surgiu após perceber a má qualidade dos embriões de mulheres jovens e saudáveis que conheceu por meio de seu programa de fertilização in vitro. “Nós não poderíamos descobrir o porquê. Elas não estavam acima do peso nem eram diabéticas”, disse ele.
Participaram do estudo 120 mulheres, com 36 e 37 anos de idade e que completaram um registro alimentar de três dias. Para algumas, a dieta diária foi de 60% a 70% de hidratos de carbono. Elas comeram mingau de aveia no café da manhã, um pão no almoço e macarrão para o jantar, e nenhuma proteína.
As pacientes foram classificadas em dois grupos: aquelas cuja dieta média teve mais do que 25% de proteína e aquelas cuja dieta média era inferior a 25% de proteína. Não houve diferença no índice de massa corporal médio entre os dois grupos.
Houve diferenças significativas em resposta à fertilização in vitro entre os dois grupos. O desenvolvimento de blastocisto foi maior no grupo de alta proteína do que no grupo de baixa proteína (64% vs 33,8%), assim como as taxas de gravidez clínica (66,6% vs 31,9%) e taxas de nascidos vivos (58,3% vs 11,3%).
Quando a ingestão de proteína era superior a 25% da dieta e a de hidratos de carbono inferior a 40%, a taxa de gravidez clínica subia para 80%. Dr. Russell agora aconselha todas pacientes de fertilização in vitro para reduzir a ingestão de carboidratos e aumentar a ingestão de proteínas.
Ele porém frisa que não há restrição calórica e que este não é um programa de perda de peso, é um programa nutricional, enfatizando que não é sobre perder peso para engravidar, mas sobre alimentação saudável para engravidar.
Já outro estudo, apresentado durante encontro de 2012 na Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), mostrou que pacientes de fertilização in vitro que mudaram para uma dieta de alta proteína e baixo carboidrato e depois passaram por outro ciclo, tiveram aumentadas suas taxas de formação de blastocisto de 19% para 45% e sua taxa de gravidez clínica de 17% para 83%.
Mesmo pacientes não-FIV com síndrome do ovário policístico têm melhorado as taxas de gravidez depois de fazer esta mudança de estilo de vida, observaram os pesquisadores.
“Os médicos concordaram que estudos como esses demonstram quão pouco se sabe sobre o efeito de micronutrientes nas dietas sobre diversos aspectos da reprodução. Eles afirmam que os resultados mostram um campo aberto para pesquisas futuras e criam perguntas como se, por exemplo, é o carboidrato em geral ou os efeitos inflamatórios de glúten em carboidratos em grão que são prejudiciais para os resultados de fertilização in vitro”, diz a médica Amanda Alvarez, ginecologista que faz parte da equipe da área de Reprodução Humana do IPGO.
Primeira Obra Nacional
Como mostra o estudo acima, aquilo que comemos todos os dias pode ser um detalhe que, a princípio, tem pouca importância, mas pode estar diretamente relacionado ao sucesso de uma gestação.
“Fertilidade e Alimentação, publicado em 2012, pode ser considerado o primeiro livro brasileiro que trata deste tema e foi escrito com rigor científico e base na experiência clínica do Centro de Reprodução Humana do IPGO por mim, com a colaboração da nutricionista Débora de Sousa Rosa. A obra fala exatamente sobre a influência dos alimentos não só na fertilidade, propriamente dita, mas também em sua ausência, além de doenças”, afirma o especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi, diretor do IPGO.
Ele frisa que a obra aborda temas como: a dieta mediterrânea; padrão alimentar ideal; alimentos que devem ser priorizados e evitados e como se alimentar fora de casa, por exemplo. Além de dicas de alimentação durante a gravidez.
Também são demonstrados os exames fundamentais para se avaliar a fertilidade, assim como os principais tratamentos e orientações de como preservá-la e se preparar para uma gravidez sadia, além de receitas e dicas com os alimentos mais indicados. Livros com temas similares geralmente são traduções que nem sempre se adaptam ao cardápio da nossa cultura, tão rica graças à miscigenação de vários povos.
E não é só isso. Mulheres que sofrem com algumas doenças também podem melhorar ou agravar a situação, dependendo do que colocarem em seus pratos. Aquelas com endometriose encontram no livro dicas com uma terapia nutricional e conhecem substâncias que estão presentes em alimentos que podem até agravar a dor que sentem. Já quem tem a SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos) também se informam sobre os aspectos nutricionais e conhecem quais alimentos não podem faltar em suas dietas.