Ao priorizarem a carreira, muitas mulheres viam reduzidas suas chances de ser mães. Isso porque o relógio biológico não perdoa, e a partir dos 35 anos é iniciada a contagem regressiva para o fim da fertilidade. Esse prazo de validade para a realização do sonho de ter filhos deixava as mulheres aflitas em busca de soluções que tornassem a maternidade um projeto possível, mesmo após os 40 anos. A boa notícia é que uma nova técnica vem demonstrando resultados animadores e pode ser a saída para que a fertilidade seja prolongada: o congelamento de óvulos.
O procedimento ganhou atenção especial dos especialistas em Reprodução Humana desde que, em outubro de 2002, um bebê britânico foi gerado graças ao congelamento do óvulo de sua mãe, realizado seis meses antes da fertilização. Tornou-se, assim, a esperança das mulheres que pretendem adiar a maternidade, seja em benefício da vida profissional ou porque ainda não encontraram o homem ideal. Também é uma alternativa para aquelas que apresentam doenças nos ovários, menopausa precoce ou problemas e tratamentos que podem torná-las inférteis, como os tratamentos contra o câncer.
O congelamento de óvulos é realizado desde 1986. Porém, em dezoito anos, apenas algumas dezenas de bebês nasceram através dos óvulos congelados de suas mães. Até pouco tempo atrás, poucos médicos acreditavam na eficácia da técnica, pois congelar óvulos é mais difícil do que congelar espermatozóides e embriões, por serem muito frágeis e também porque podem sofrer danos em baixas temperaturas. Os especialistas também acreditavam que o óvulo congelado apresentava alterações cromossômicas, o que inviabilizaria sua utilização.
Porém, com os avanços da Medicina Reprodutiva, hoje as técnicas de congelamento estão bem mais eficazes. “Com a evolução tecnológica, consegue-se taxas de gravidez elevadas, até 30%”, explica Dr Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em Infertilidade da Clínica de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia).
O procedimento utilizado pela equipe britânica foi desenvolvido por especialistas italianos e, desde então, é empregado também em outros países, como o Brasil e a Argentina. Nele, o óvulo permanece inalterado, congelado a uma temperatura de 198ºC negativos, dentro de um tanque de nitrogênio, durante muitos anos. “O limite do prazo de congelamento ainda não está estabelecido, mas acredita-se que, pelo menos, por 10 a 12 anos os óvulos poderão ser mantidos”, esclarece o especialista.
No Brasil, onde os avanços em Medicina Reprodutiva são reconhecidos internacionalmente, o número de mulheres que desejam congelar os óvulos vem aumentando. “Muitas mulheres têm me procurado interessadas no congelamento de óvulos. As brasileiras estão seguindo a tendência mundial de adiarem a gravidez em prol de outros interesses e por isso querem ter óvulos de qualidade para quando chegar o momento de ter filhos”, diz Dr Arnaldo.
Assim, uma mulher solteira pode congelar seus óvulos e utilizá-los apenas quando sua “alma gêmea” aparecer. Ou então, aquela que vai se submeter a uma quimioterapia e tem medo de ficar infértil, pode optar pelo congelamento e ser mãe depois que o câncer for superado. O especialista apenas alerta para que os óvulos sejam coletados até os 35 anos, pois quanto mais jovem for o óvulo, mais tempo ele pode ser preservado sem perda de sua qualidade.
Já o limite de idade para a mulher engravidar é bem maior, e talvez possa chegar aos 55 anos. “Até pouco tempo atrás, a mulher só poderia engravidar com essa idade através de doação de óvulos. Hoje, se ela congelar os seus e o limite de congelamento permitir, ela poderá, sem problemas, ter um filho usando seu próprio óvulo. Entretanto, não é recomendado que a mulher espere até essa idade, já que suas condições clínicas podem não ser favoráveis”, afirma Dr Arnaldo.