Como dito anteriormente, o envelhecimento ovariano pode ser explicado pela queda no número de óvulos e sua qualidade. A queda na quantidade ocorre porque mulher tem um número finito de óvulos que não se renovam. Quando inicia seus ciclos menstruais, as meninas têm cerca de 300.000 óvulos disponíveis. A cada mês, geralmente só um óvulo chega à maturidade (ovulação), mas cerca de 1000 são perdidos, reduzindo progressivamente a reserva ovariana, ou seja, o estoque de óvulos disponíveis, até que uma hora se esgota (menopausa). Além de uma redução na quantidade, com o passar dos anos, há um envelhecimento dos óvulos, com queda em sua qualidade, diminuindo a chance de serem fertilizados e aumentando os riscos de embriões cromossomicamente alterados. Isso tem duas explicações: o encurtamento dos telômeros e pela diminuição do funcionamento e número das mitocôndrias. Ambas serão explicadas a seguir.
A genética e os telômeros
Os telômeros ou telómeros (do grego telos, final, e meros, parte) são estruturas constituídas por fileiras repetitivas de DNA que formam as extremidades dos cromossomos, que são os componentes do núcleo da célula responsáveis pela transmissão das características hereditárias. Sua principal função é manter a integridade estrutural do cromossomo. Os cientistas acreditam que o envelhecimento celular está relacionado com estas estruturas. Durante a divisão celular, os cromossomos são duplicados, de forma que as células-filhas recebem um patrimônio genético idêntico ao da célula-mãe. Mas, a cada duplicação, os cromossomos perdem uma parte de seus telômeros, até que estes chegam a um tamanho crítico, a partir do qual a célula para de se dividir. É o encurtamento dessas estruturas que provocam o envelhecimento das células. Cada vez que a célula se divide, os telômeros são encurtados. Como estes não se regeneram, chega a um ponto em que, de tão encurtados, não permitem mais a correta replicação dos cromossomos e a célula perde completa ou parcialmente a sua capacidade de divisão.
Os telômeros são longos nas células jovens, fragmentam-se à medida que a célula envelhece até chegarem a um mínimo, no qual a célula morre. Como defesa a esse fenômeno, existe a enzima telomerase, que funciona como protetor dos telômeros e tem influência crucial nos tipos de células. Esta enzima foi descoberta por Liz Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak, que receberam o Premio Nobel em 2009. Por exemplo, no homem, as células germinativas (células que originam gametas), que se replicam a vida toda, possuem a atividade da telomerase sempre alta, e portanto seus telômeros não se encurtam e essas células não morrem nem envelhecem. A vitamina D, produzida quando a pele é exposta à luz do sol, pode ajudar a desacelerar o processo de envelhecimento das células e tecidos, de acordo com pesquisadores britânicos. Um trabalho científico do Kings College of London chefiado pelo médico Brent Richards e publicado no American Journal of Clinical Nutrition, avaliou 2.160 mulheres com idades entre 18 e 79 anos, e verificou a concentração de vitamina D no sangue, comparando esse dado ao comprimento dos telômeros. Foi observado que as mulheres com níveis mais altos de vitamina D no organismo tinham maior probabilidade de ter telômeros mais longos em suas células. Este estudo ainda não chega a comprovar causa e efeito, mas acredita-se que a vitamina D pode aumentar a atividade da telomerase (veja nos próximos itens).
As mitocôndrias e o envelhecimento
As mitocôndrias são pequenas estruturas encontradas dentro de todas as células do corpo. Elas são consideradas as usinas de produção de energia da célula (“casa de força da célula”), isso porque utilizam nutrientes e oxigênio para produzir energia química chamada ATP. Aproximadamente 90% de toda a energia do corpo é produzida pelas mitocôndrias. Em algumas células, há apenas algumas mitocôndrias, enquanto em outras há milhares. Geralmente, as células que precisam de mais energia para a função, tais como as do cérebro, coração, músculo esquelético e óvulos, possuem um número maior de mitocôndrias.
No interior da mitocôndria, as moléculas resultantes da alimentação são utilizadas numa série complexa de reações químicas, que resultará na síntese de uma molécula capaz de armazenar energia e transportá-la para toda célula: o ATP. É no ATP que a célula encontrará 90% da energia necessária para exercer suas funções como: produção de proteínas, movimento, excreção, troca de íons, etc. Se não fossem as mitocôndrias, não haveria possibilidade de vida; elas são as estruturas energéticas centrais da célula.
As mitocôndrias durante a idade reprodutiva: os óvulos, com o passar dos anos, tendem a ter uma quantidade menor de mitocôndrias e estas tendem a ser menos funcionais, provocando diminuição do ATP e, assim, uma queda na energia da célula. Uma das principais teorias para o declínio da produção de ATP mitocondrial com a idade é o acúmulo de mutações no DNA mitocondrial (mtDNA). As mitocôndrias têm seu próprio genoma que é distinto do genoma do núcleo das células. Essas mutações levariam a menor função mitocondrial. Com isso, há um declínio na produção de energia mitocondrial do oócito e, assim, muitos processos da maturação tornam-se deficientes, incluindo a separação dos cromossomos, o que leva a uma maior taxa de aneuploidia em embriões de mulheres mais velhas.
Além disso, os embriões têm uma grande consumo de oxigênio e não há replicação mitocondrial até a fase de blastocisto. Assim, a população inicial de mitocôndrias do óvulo tem que ser dividida entre o crescente número de células do embrião. Com uma população menor de mitocôndrias, o embrião pode ter seu crescimento inicial prejudicado.
Este texto foi extraído do e-book “Mulheres Maduras”.
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