Dr. Arnaldo S. Cambiaghi & Equipe IPGO
Sempre que ouvimos falar de endometriose já pensamos em uma mulher, afinal, trata-se de uma doença ligada ao útero, certo? Não! Dois casos da doença em homens, recentemente divulgados no exterior, trouxeram mais dúvidas sobre o tema. Um dos afetados tinha 83 anos e descobriu ter um endometrioma na parece abdominal (um tipo de cisto que acomete principalmente o ovário). Ele estava sendo tratado para o que se pensava ser um carcinoma da próstata. Exames complementares mostraram se tratar de adenocarcinoma – tumor maligno. Ele foi tratado, para câncer, por quimioembolização transarterial e acompanhado até sua morte, em 1979, por problema cardiovascular.
O segundo caso é de um homem de 40 anos, pai de quatro filhos, que procurou ajuda médica após sentir dor abdominal e inchaço. Uma tomografia computadorizada mostrou uma grande lesão cística do complexo pélvico da linha média que parecia surgir do canal deferente direito. O paciente passou por um procedimento conjunto entre cirurgia geral e urologia, planejado para cistouretroscopia (feito com um cistoscópio no interior da bexiga), laparoscopia diagnóstica e excisão da massa pélvica. A laparoscopia confirmou a presença de uma massa anterior ao reto e sob o peritônio parietal cobrindo a cúpula da bexiga. O restante do procedimento foi convertido em laparotomia exploradora para remoção mais segura da massa.
A separação entre os sistemas urogenital masculino e feminino ocorre no embrião entre a oitava semana e o quarto mês. Porém, há sempre a possibilidade de remanescentes do sexo oposto permanecerem. Uma revisão da literatura sobre endometriose no homem revela vários casos que ocorreram cuja origem vem, no entanto, do utrículo prostático, que é uma formação utricular que se abre entre os canais ejaculadores, na uretra, e que é também denominada útero masculino. Vários estudos identificaram uma associação clara e positiva entre o aumento da obesidade e o da produção de estrogênio em homens. Fenômeno provavelmente associado ao crescimento da atividade de aromatização do tecido adiposo, à superexpressão de citocinas pró-inflamatórias, à resistência à insulina e à hiperativação das vias do fator de aumento semelhante à insulina. Em relação à endometriose masculina, pode-se teorizar que o crescimento na aromatização poderia fornecer níveis de estrogênio patologicamente elevados para impulsionar o surgimento da endometriose de células embrionárias remanescentes em machos.
Vale a pena frisar que identificar os fatores causadores da endometriose em homens pode lançar luz também sobre as teorias existentes de endometriose em mulheres.
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