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Congresso Sheffield e Amsterdam (25/06 a 30/06/2009)

Europa em dois tempos

Por Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Neste mês de junho participei de dois renomados encontros internacionais sobre a saúde reprodutiva da mulher. O primeiro em Sheffied (Inglaterra) e o segundo em Amsterdam (Holanda). Alguns assuntos mereceram destaque.

SHEFFIELD – INGLATERRA (25 e 26/06/2009)

SHAPE in-clinic meeting – Center for Reprodutive Medicine and Fertility at the Jessop Wing, Royal Hallamshire Hospital

AMSTERDAM – Holanda (28 – 30/06/2009)

25º Congresso Mundial de Reprodução Humana da European Society of Human Reproduction na Embriology – ESHRE

SHEFFIELD – INGLATERRA, 25 – 26/06

Uma cidade industrial, importante pela fabricação do aço, porém pouco atrativa aos olhos de um turista. A cidade não possui muitas belezas naturais e torna-se ainda menos receptiva pelo seu clima frio e cinzento, característicos na Inglaterra. Ao final do dia as ruas tornam-se desertas e não fosse pela segurança exemplar deste país eu temeria pela minha própria.

Organizado pelo Professor William L. Ledger – Section of Reproductive and Developmental Medicine – aconteceu na universidade de Sheffield, um dos mais importantes centros de reprodução humana do mundo, na cidade de mesmo nome, no interior da Inglaterra.

Este não foi exatamente um simpósio, mas sim um encontro fechado de 12 especialistas conceituados de países diferentes: Inglaterra, Alemanha, Espanha, Grécia, Vietnã, Irlanda, Síria, Turquia e Brasil. Foram dois dias em que foram discutidas as experiências de cada um dos profissionais presentes nas técnicas de reprodução assistida. As atenções se concentraram na busca de uma melhor maneira para a administração das medicações nestes tratamentos visando sua eficácia, simplificação das aplicações e menos desconforto aos pacientes.

Conclusão: A discussão foi muito proveitosa o que trará muitos benefícios aos tratamentos futuros: menos medicação, menos desconforto, mais facilidade e melhores resultados.

  • oordenadores
  • Dr. William Ledger
  • Ms. Rachel Cutting
  • Mr. Jonathan Skull
  • Ms. Anne Mowforth
  • Mr. Richard Fleming

Participantes

  • Dr. El-Hantati Tawfick (Irlanda)
  • Dr. David Walsh (Irlanda)
  • Dr. Alhalabi Marwan (Síria)
  • Dr. Nazih Ibrahim (Síria)
  • Dra. Ana Polo Ramos (Espanha)
  • Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi (Brasil)
  • Dr. Cesar Augusto Cornel (Brasil)
  • Dra. Vuong Thi Ngoc Lan (Vietnam)
  • Dra. Deniz Gokalp Kaya (Turquia)
  • Dr. Thomaz Hahn (Alemanha)
  • Dr. Stefan Kissler (Alemanha)
  • Dr. Dino Demetroulis (Grécia)

AMSTERDAM, HOLANDA, 28 – 30/06

25º Congresso Mundial de Reprodução Humana da European Society of Human Reproduction na Embryology – ESHRE

Dias depois do simpósio de Sheffield…..

Paradoxalmente em relação à Sheffield, Amsterdam é uma cidade incrivelmente linda tomada por personalidade e muita beleza natural. 100% plana, ela é cortada por canais ligados por pontes onde circulam permanentemente barcos de todos os tipos e tamanhos. O mercado de flores flutuante é um de seus atrativos e as “Houseboats” que são casas sobre barcos, chamam a atenção por sua decoração charmosa e infra-estrutura independente.

As ruas, por onde circulam bondes azuis (chamados de “tram”), são percorridas por um tráfico intenso de bicicletas que se amontoam nos faróis fechados e em estacionamentos próprios. São respeitadas por todos os outros veículos e têm faixa própria para circulação. São pedaladas por homens e mulheres de todas as idades e níveis sociais. São 550 mil bicicletas para cerca de 730 mil habitantes.

Embora considerada uma cidade liberal com o carimbo de muito sexo, drogas e rock’n’roll ela tem muito mais para oferecer. Amsterdam esbanja cultura, pois possui mais museus por metro quadrado do que qualquer outro país do mundo. Entre os mais conhecidos estão o Rembrandt, Van Gogh e o Museu da Casa de Rembrandt, que data desde 1606 e na qual Rembrandt viveu entre 1639 e 1658.

A arquitetura tem características próprias e é semelhante em quase toda a cidade, causando uma harmonia repetitiva, mas agradável.

Uma das principais atrações da Holanda é a casa de Anne Frank que está localizada no centro de Amsterdam, onde se encontra o esconderijo no qual Anne Frank escreveu seu famoso diário durante a Segunda Guerra Mundial. É impossível entrar nesta casa e não sentir-se deprimido ao imaginar o que esta menina passou nos seus 15 anos de idade quando, neste local ficou escondida por alguns anos dos nazistas. Acabou indo para o campo de concentração, separada de sua família e morrendo algum tempo depois do final da guerra.

Entretanto nada disto prejudica o prazer de andar a pé pelas ruas com os bares e restaurantes em ebulição, lotados até às 23h, ainda com um resto da luz do dia e com a segurança que os sobreviventes de São Paulo pouco conhecem.

Nesta época do ano os dias são longos e isto ajuda muito. É calor, anoitece após as 22h e amanhece antes das 5h.

Os holandeses são extremamente prestativos e educados. Não houve uma só vez em que eu, ao abrir o mapa da cidade para localizar algum ponto turístico (eu fazia turismo após as 17:00 h, quando o congresso já havia terminado) e um cidadão simpático, deixasse de oferecer ajuda.

Amsterdam merece ser visitada várias vezes na vida.

O CONGRESSO

Este Congresso Mundial é freqüentado por mais de 10.000 profissionais da medicina reprodutiva todos os anos. Os temas são um pouco repetitivos, mas é sempre bom observar o que outros profissionais da ciência andam produzindo ao nosso futuro. Sempre se aprende alguma coisa que poderá ser incorporada à nossa rotina de trabalho e assim melhorar os resultados dos tratamentos, além de percebermos que, cientificamente, estamos em sintonia e em alguns aspectos até melhor que o resto do mundo. É sempre bom dividir este espaço com colegas do mundo inteiro que partilham os mesmos interesses. Os assuntos pertinentes à contracepção e menopausa praticamente inexistiram.

Atualização em genética – O futuro no presente

Considerado um assunto de suma importância, pois, grande parte do futuro da medicina reprodutiva concentra-se neste capítulo. O objetivo é proporcionar aos casais que têm dificuldade de engravidar, tratamentos seguros e crianças saudáveis, principalmente aqueles que temem que seus filhos tenham problemas genéticos ao nascer ou tenham doença genética na família. Além do conhecido exame já realizado pelo IPGO chamado PGD (Preimplantacional Genetic Disease www.ipgo.com.br/nova-tecnica-de-pgd-cgh. são prometidos para o futuro novos exames para avaliação mais criteriosa da saúde do embrião. São os marcadores SNP (Single nucleotide polymormorphismes), STR (Short tandem repeats) e VNTR (variable number of tandem repeats). Ainda em pesquisa para um uso futuro o BACarray SNParray, MDA: Multiple Displacement Amplification e o Single Cell Multiplex PCR.

Para saber mais sobre a avaliação não invasiva dos embriões, existem os seguintes exames:

  • metabolomic profiling
  • spectrophotometric analysis of metabolomic changes in culture medium- amino acid profiling
  • assessment of amino acid depletion and production by embryo in culture medium
  • respiration-rate measurement – respiration-rate of embryos is assessed
  • birefringence imaging
  • polarization light microscopy is used to assess meiotic spindle or zona pellucida

Este futuro que eu espero que seja próximo é brilhante e sem dúvida será um grande progresso para a medicina reprodutiva.

Palestrantes: Grupo especializado do Curso pré-congresso de Genética aplicada à Medicina Reprodutiva

Doses maiores de medicamentos, taxas menores de sucesso

Tem sido demonstrado que as doses dos medicamentos utilizada para a indução da ovulação nos tratamentos de Fertilização in vitro, tem sido desnecessariamente exageradas. Batizada em inglês com o nome de “MILD STIMULATION”, que em português significa “leve” ou “moderada”, esta estimulação ovariana mais suave causa menos efeitos colaterais e produz uma quantidade menor de óvulos maduros quando comparada com outros esquemas mais agressivos. Acredita-se que, embora haja menos óvulos, eles sejam de melhor qualidade e por isso formariam embriões com maior chance de implantação e gravidez, além de provocar menos desconforto e menor custo financeiro. É A TENDÊNCIA ATUAL -“LESS IS MORE”.

Palestrante: Zev Rosewaks-“Optimizing success in ovarian stimulation protocol” Shering Plough Company Simposium

Endometriose – Coletânea

Nada de diferente daquilo que o IPGO tem preconizado. Somente algumas idéias renovadas que merecem ser colocadas juntas sem entrar em mais detalhes. Novos trabalhos procuram demonstrar a causa da endometriose que, embora possa se expressar de maneiras diferentes, é sempre conseqüente ao refluxo de fragmentos do endométrio pelo sangue menstrual. O cisto endometrióide é conseqüente de uma ovulação inadequada. A implantação dos focos da endometriose é variável de uma paciente para outra em decorrência da “resistência à progesterona”. Não existem novidades nos tratamentos.

Palestrantes: vários

Preservação da fertilidade em pacientes com câncer – Avanços nas técnicas de transplante de fragmentos de ovário

Os avanços destas técnicas continuam sendo destaques e este é um assunto que o IPGO tem se dedicado com entusiasmo. O tema “Preservação da Fertilidade” tem sido o foco de debates nos congressos, principalmente porque cada vez mais o câncer acomete os jovens que, embora se recuperem da doença, podem perder a fertilidade em decorrência dos tratamentos (quimioterapia/radioterapia). A técnica apresentada demonstrou resultados animadores e pode ser incorporada com facilidade pelas clínicas de reprodução humana. O apresentador, que há muitos anos é conhecido pela sua dedicação a estes tratamentos, apresentou seus casos em que os transplantes que tinham duração de até quatro ou cinco anos. Algumas de suas pacientes tiveram duas gestações com o mesmo grupo de fragmentos transplantados (quatro ou cinco) Uma vez que em condições habituais o número total de fragmentos iniciais congelados está ao redor de 20, pode-se concluir que a duração da fertilidade, nestes casos, pode chegar a 20 anos.

Palestrante: S. Silber “Duration of function of fresh and frozen ovarian grafts” -St. Luke’s Hospital, Infertility Center of St. Louis, St. Louis Missouri-USA

Novos recursos nos tratamentos de fertilização in vitro podem aumentar as taxas de gravidez e diminuir a possibilidade de gestação múltipla

Novos critérios para identificar os embriões com maior chance de implantação podem aumentar a chance de gravidez além de diminuir a possibilidade de gestação múltipla. Nesta avaliação, são analisadas substâncias secretadas pelos embriões no período que estiverem no laboratório além do oxigênio que consomem nesta fase. Com esta quantificação concluem-se quais são os embriões melhores e mais saudáveis.

Palestrante: K. Gluschenco “Evaluation of metabolic profiling as a tool for embryo selection in single embryo transfer (SET)”-Royal Women’s Hospital, Melbourne IVF, Parkville Victoria, Australia

Coriofollitropin- alfa – Uma nova medicação para fertilização in vitro (Uma “picada” ao invés de Seis)

Há alguns anos comento esta nova promessa de medicação da Schering-Plough – ex-Organon. Esta nova medicação vem sendo anunciada há alguns anos e deverá substituir parcialmente as atuais, talvez em 2011/2012. Uma única injeção dura seis dias tornando desnecessárias as “picadas” diárias neste período. Atualmente está em fase final de testes em alguns centros de reprodução humana da Europa e Estados Unidos e deverá ser uma opção muito mais confortável para as pacientes. Esperamos que o custo seja acessível.

Palestrante: B.Behr, “Coriofollitropin alfa versus recombinant FSH treatment for COS in a GnRH antagonist protocol: equacy efficacy in terms of oocyte na embryo quality” Stanford University, USA.

Myo-inositol – Uma nova medicação nos tratamentos de Ovários policísticos

Esta é uma nova alternativa no tratamento para indução da ovulação nos ovários policísticos e representa uma possibilidade nos casos que não foram bem sucedidos com as drogas convencionais

Palestrante: E.Papaleo “Addition of myo-inusitol to clomiphene citrate in PCOS patients clomiphene-resistant for ovulation induction” San Raffaele, Gin-Obstet Dept., Milano, Italy.

Cigarro na gravidez afeta a fertilidade dos filhos do sexo masculino

Um interessante trabalho feito em ratos, demonstrou que a exposição das mães grávidas ao cigarro pode provocar infertilidade nos seus filhos. Esta é mais uma comprovação dos efeitos negativos deste vício na gestação – inclui-se aqui as fumantes passivas, aquelas que convivem com fumantes.

Palestrante: B. Yuksel, “Environmental tobacco smoke exposure during intrauterine period, promotes caspase dependent and independent DNA fragmentation in sertoli-germ cells.” HSR woman Health and IVF Center Reproductive Endocrinology, Ankara, Turkey.

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