A alimentação é a necessidade mais primitiva do ser humano e tem ações tanto para o bem, quando saudável, como para o mal, quando inapropriada. Isso é uma realidade. “Fertilidade e Alimentação” pode ser considerado o primeiro livro brasileiro que trata desta questão. Obras similares geralmente são traduções que nem sempre se adaptam ao cardápio da nossa cultura, tão rica graças à miscigenação de vários povos. E sem falar na variedade de opções de frutas e vegetais que encontramos aqui.
A obra deixa claro que, em nenhuma hipótese, devemos deixar de lado os recursos tecnológicos avançados da ciência em detrimento do natural, mas também não podemos nos esquecer da base do bom funcionamento do organismo. Escrito pelo especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi, em parceria com a nutricionista Débora de Sousa Rosa, o livro nasceu principalmente para dirimir dúvidas de pacientes em relação ao modo como deveriam se alimentar para terem mais sucesso na fertilização.
Cambiaghi conta que frequentemente é questionado por pessoas que pretendem engravidar, sobre qual a importância da alimentação na fertilidade. “Respondo sempre que o que comemos tem relação direta com nossa saúde, o funcionamento dos nossos órgãos e, por isso, devemos estar atentos ao que ingerimos. A alimentação por si só não resolve os problemas mais complicados da saúde reprodutiva como, por exemplo, a obstrução tubária ou a falta de espermatozoides, mas quando uma dieta saudável estiver associada a tratamentos avançados, não há dúvida de que os resultados poderão ser melhores”.
Já está comprovado que os alimentos têm um papel importante em vários problemas de saúde, desde os mais simples, como o mau funcionamento intestinal, até os mais sérios, como diabetes, hipertensão arterial, doenças do coração e até o câncer. Pesquisas recentes têm também demonstrado o peso dos alimentos nas doenças autoimunes como esclerose múltipla, lúpus e fibromialgia. Porém, pelo lado positivo, são valorizados por terem influência direta no sucesso de atletas campeões ou pela longevidade de alguns povos, por exemplo.
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ToggleE com a fertilidade não é diferente! A boa dieta pode não só melhorá-la e preservá-la como também se transformar em vilã, fazendo com que um ou ambos os parceiros se tornem obesos, por ingerirem alimentos ricos em gorduras. “Os casais precisam de óvulos e espermatozoides campeões” – frisa o autor.
Distúrbios hormonais, desequilíbrios entre nutrientes, resistência à insulina, dificuldade ou ausência de ovulação e alteração da quantidade ou qualidade dos espermatozoides são algumas das consequências do estado nutricional inadequado que pode aumentar o tempo ou impedir que uma gestação ocorra de forma natural.
E, considerando que as mudanças de hábito, especialmente alimentares, são prazerosas, muito mais divertidas que usar medicamentos e não causam nenhum efeito colateral, por que não começar por elas? Esta é a proposta do livro: mostrar como se alimentar de forma correta para se alcançar saúde pode também trazer bem-estar, prazer e, por que não, fertilidade.
Dieta Mediterrânea
No capítulo três, Dieta da Fertilidade, os autores destacaram a dieta mediterrânea, reconhecida como uma das mais saudáveis do mundo. E um dos pontos fortes dessa alimentação é o uso abundante de azeite, que reduz os níveis do colesterol ruim, como fica claro nestes trechos do livro:
Uma das primeiras pesquisas realizadas comparou a prática da Dieta Mediterrânea – com alto teor de fibras, alimentos frescos e azeite – com seus efeitos sobre a longevidade em milhares de pessoas ao longo de mais de 40 anos. Foi observado que pessoas que consumiam essa dieta viviam cerca de dois a três anos a mais do que aqueles que não a seguiam, de acordo com o pesquisador Gianluca Tognon.
Estes resultados podem ser explicados pelo efeito protetor contra doenças cardiovasculares, bem esclarecidas na maioria das pesquisas sobre o tema. Mais especificamente, o padrão nutricional mediterrâneo, associado ao conjunto de nutrientes ricos em antioxidantes, fibras e gorduras de boa qualidade, seria determinante para a manutenção e preservação das funções orgânicas.
Um de seus principais benefícios está associado à redução dos níveis de LDL colesterol (o “mau colesterol”), aliado ao aumento de HDL colesterol (o “bom”), aspectos essenciais na proteção contra as doenças cardiovasculares. Outra evidência observada foi seu efeito na redução dos marcadores inflamatórios, presentes na obesidade e em outras doenças crônicas, protegendo o organismo contra o desenvolvimento do efeito inflamatório e até mesmo contra a obesidade. Estudos afirmam que aderir ao padrão mediterrâneo também contribui para a prevenção de doenças como hipertensão, dislipidemia e diabetes do tipo 2.
Alimentação correta também pode diminuir os sintomas da endometriose
Mesmo pessoas que tenham alguma doença também podem contribuir para a diminuição dos sintomas seguindo uma dieta saudável. É o caso de um dos males que mais afeta a fertilidade feminina: a endometriose.
A endometriose é uma doença enigmática que vem crescendo pelo mundo. Estima-se que de 10% a 14% das mulheres em sua fase reprodutiva (19 a 44 anos) e de 25% a 50% das inférteis sejam acometidas por este mal. Muitas mulheres chegam a sentir tanta dor que se vêem impossibilitadas de viver uma vida normal e até mesmo a faltar no trabalho.
Uma celebridade que teve esta doença e é considerada o maior símbolo sexual até hoje é a atriz norte-americana Marilyn Monroe que, muitas vezes, faltava ou chegava atrasada a filmagens e compromissos por conta deste problema. Marilyn sofreu vários abortos e nunca conseguiu realizar seu sonho de ser mãe.
Sintomas
Os sintomas mais comuns da endometriose enigmática são cólica, menstruação irregular e infertilidade. O tratamento da endometriose profunda é sempre cirúrgico, feito por videolaparoscopia, é algo extremamente complexo e exige médicos qualificados e experientes neste tipo de intervenção.
Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis deste hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença.
Assim, estudos diversos relacionam a melhora das dores com algumas intervenções nutricionais pontuais, como aumento do consumo de fibras, substituição de gorduras de animais por óleos de boa qualidade e consumo adequado de vitaminas antioxidantes como A, C, E e complexo B.
São boas fontes de vitamina A: damascos, pêssegos, melão cantalupo e vegetais verde-escuros e amarelo-escuros. Das vitaminas A e C: abóbora, tomate, manga, mamão papaia e couve. Da vitamina E: frutas cítricas, morangos, pimentas, repolho, batata-doce e brócolis. Já as vitaminas do complexo B são encontradas em ovos e laticínios (prefira orgânicos), leguminosas e alimentos integrais.
Há também aqueles alimentos que podem agravar a dor como os industrializados, produzidos com excesso de gordura hidrogenada, farinha e açúcar refinados. Alimentos de origem animal são a maior fonte de substancias hormonalmente ativas, pois o tecido gorduroso e produtos à base de gordura animal são grandes retentores de xenoestrogênios, bem como antibióticos, drogas veterinárias e hormônios para estimulo do crescimento. Assim, o ideal é evitar embutidos, carnes vermelhas, leite e derivados não-orgânicos, além de gorduras saturadas.
Arnaldo Schizzi Cambiaghi
Especialista em medicina reprodutiva e diretor do Centro de reprodução humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), trilha sua carreira auxiliando casais na busca por um filho e durante toda a gestação. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Ilinos, EUA em Advance Laparoscopic Surgety. Membro-titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European Society of Human Reproductive Medicine. É autor de diversos livros na área da reprodução humana como Fertilidade Natural (Ed. LaVida Press), Grávida Feliz, Obstetra Feliz (LaVida Press), Fertilização um ato de amor (LaVida Press), Manual da Gestante (Ed. Madras), Os Tratamentos de Fertilização e As Religiões (Ed. LaVida Press), Um Bebê e 2 Cegonhas” (Ed. La Vida Press). Criou também os sites: www.ipgo.com.br; www.fertilidadedohomem.com.br; www.fertilidadenatural.com.br, onde esclarece dúvidas e passa informações sobre a saúde feminina, especialmente sobre infertilidade. Apresenta seu trabalho em Congressos no exterior, o que confere a ele um reconhecimento internacional.